Agrotóxico ilegal infesta lavouras e polícia retém 15 toneladas em 7 meses
Com exceção da PRF, forças de segurança apreenderam mais contrabando no 1º semestre em comparação ao ano passado
Pelo menos 15 toneladas de agrotóxico de uso proibido no Brasil foram apreendidas nos primeiros sete meses deste ano em Mato Grosso do Sul. Fabricados principalmente na China, os produtos são contrabandeados do Paraguai através de uma rede do crime organizado que utiliza as mesmas rotas do narcotráfico e do contrabando de cigarro.
Os destinos do agrotóxico contrabandeado são os grandes estados produtores de grãos do país, como Mato Grosso, Goiás, São Paulo e Paraná, mas boa parte fica é aqui mesmo para ser usada em lavouras sul-mato-grossenses.
Fabricados sem seguir as normas de proteção à saúde humana e ao meio ambiente, os agrotóxicos contrabandeados despertam a atenção dos produtores rurais por causa do preço, afirmam profissionais do setor ouvidos pelo Campo Grande News. Alguns produtos custam metade do valor no Paraguai. Outros, menos ainda, até um décimo do preço no mercado brasileiro.
Mesmo sabendo que quase 100% dos produtos vendidos no Paraguai são adulterados e são ainda mais prejudiciais, muitos agricultores recorrem ao agrotóxico ilegal para controlar pragas e ervas daninhas das lavouras.
Vendidos em qualquer estabelecimento do ramo em cidades paraguaias vizinhas de Mato Grosso do Sul, principalmente em Pedro Juan Caballero (fronteira com Ponta Porã), Capitán Bado (Coronel Sapucaia) e Pindoty Porã (Sete Quedas), os agrotóxicos contrabandeados rodam diariamente nas estradas da região, de pequenas a grandes quantidades.
Nos cinco primeiros meses de 2019, a Polícia Federal apreendeu quase a mesma quantidade de agrotóxico tirado de circulação no ano passado inteiro. Foram 7,3 toneladas apreendidas de janeiro a maio deste ano e 8,4 toneladas nos 12 meses de 2018.
O DOF (Departamento de Operações de Fronteira) também apreendeu mais agrotóxico no primeiro semestre deste ano. Foram 852 quilos de janeiro até a semana passada. De janeiro a julho do ano passado foram 175 quilos tirados de circulação.
O maior crescimento nas apreensões do agrotóxico pirata foi registrado pela PMR (Polícia Militar Rodoviária). Nos sete primeiros meses deste ano foram apreendidas 5,7 toneladas de produtos contrabandeados no estado. Em 2018 a PMR não havia apreendido sequer um quilo.
Só a PRF (Polícia Rodoviária Federal) registrou queda nas apreensões de agrotóxico neste ano. Foram 1.757 quilos de 1º de janeiro até 31 de julho. No mesmo período do ano passado foram 4.399 quilos apreendidos. Nos 12 meses de 2018 foram 12,6 toneladas apreendidas pela Rodoviária Federal.
No Brasil, os agrotóxicos à venda são fiscalizados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), pelo Ibama e pelo Ministério da Agricultura. Estima-se que pelo menos 30% dos defensivos agrícolas usados no país são contrabandeados ou fabricados ilegalmente.
O consumo só aumenta, apesar de a Anvisa alertar que os agrotóxicos irregulares não oferecem segurança para a população e para o ambiente. A eficiência também é questionada, já que são fabricados sem controle, o que aumenta o risco para a saúde da população.
Mais agrotóxicos liberados – No mês passado, o Ministério da Agricultura aprovou o registro de mais 51 agrotóxicos, alcançando 262 liberados neste ano no país. Sete são novos e os demais são resultado da quebra de patente de produtos já comercializados.
A ministra da Agricultura Tereza Cristina alega que a liberação não coloca em risco a saúde dos consumidores e o ambiente. A política sul-mato-grossense afirma que a liberação de registro de novos produtos foi acelerada, mas as exigências continuam as mesmas.
“Não mudou nada, o que mudou, somente, foi a celeridade. Foi colocado mais gente no Ministério da Agricultura, pesquisadores da Embrapa que vieram ajudar essa fila [de pedidos de registro]. Foi colocado mais gente no Ministério de Meio Ambiente, também a fila anda. E a Anvisa resolveu pegar esse assunto em que o Brasil está muito atrasado em relação a outros países”, afirmou a ministra.
Nesta terça-feira (6), três abaixo-assinados com 160 mil assinaturas contra a liberação de mais agrotóxicos foram entregues por ambientalistas na Câmara dos Deputados.