Após "recuperada", Rosi passou mal e morreu um dia antes de voltar ao serviço
Rosimeire contraiu covid do cunhado, fez 14 dias de isolamento sem sintomas graves e faleceu depois de "pressão na cabeça"
Rosimeire Matos de Freitas, 32 anos, morreu um dia antes de voltar a trabalhar, depois de cumprir os 14 dias previstos de isolamento por infecção por covid-19. Moradora de Dourados, a 260 Km de Campo Grande, ela acabara de realizar o sonho de se formar em Gastronomia e estava prestes a abrir a própria empresa no ramo. "Ela tinha comprado tudo para começar", disse o esposo.
O marido, José Carlos da Silva Júnior, 28 anos, também se infectou e cumpriu o mesmo período de isolamento. Ambos, segundo ele, contraíram a doença de um cunhado de Rosy, como era chamada. Esse cunhado trabalha em frigorífico onde centenas de funcionários já testaram positivo para a doença.
“Quando soubemos que ele testou positivo, fomos fazer nosso teste também, agendamos no drive thru da cidade e fizemos o teste dia 15”, contou Júnior, lembrando que no dia do teste, tanto ele quanto ela testaram positivo para covid-19, mas mesmo antes do resultado, ela apresentou sintomas mais “sérios” do que ele, como febre, muita dor de cabeça e “acordava com dor no corpo”.
Ele lembra que a esposa chegou também a reclamar de dores no peito. No entanto, esses sintomas passaram sem evoluir para nenhuma situação mais grave. “Nos últimos dias do isolamento, ela não sentia mais nada, tanto que ia voltar a trabalhar no outro dia”, contou.
Rosi faleceu em 24 de junho, uma quarta-feira, e voltaria ao trabalho de operadora de caixa em posto de combustível no dia 25, conforme havia acordado com a empresa. O “mistério” nisso tudo, segundo o marido, é que ela já havia cumprido isolamento e não apresentava sintomas, o que gera dúvidas se a morte ocorreu ou não decorrente da covid-19.
Júnior conta que no dia em que a esposa faleceu, ela ficou em casa e chegou a colocar roupa para lavar, quando mandou mensagem para ele, que já estava no serviço, dizendo que estava sentindo uma “pressão muito forte na cabeça” e pedindo para que ele voltasse e a levasse ao hospital.
“Quando cheguei em casa as irmãs dela já estavam lá, que ela havia avisado e estava desacordada. Jogamos ela no carro e fomos pra onde era mais perto da minha casa, que é a UPA da cidade. Ainda no carro ela sangrou pelo nariz e pela boca e chegando lá (na UPA), a primeira coisa que perguntaram é se ela tinha covid e depois não tivemos mais contato com ela”, lamentou.
Mesmo não desejando cobrar respostas do Poder Público ou de profissionais da saúde, “para que a esposa possa descansar”, Júnior afirma que os sintomas que antecederam a morte de Rosi são de aneurisma, mas o atestado de óbito consta como “insuficiência respiratória aguda”.
“Nem durante o isolamento ela reclamou de falta de ar. Na nossa cabeça, a covid pode ter causado essa pressão, esse aneurisma, principalmente porque para quem não tinha nada e de repente tem um derrame assim, do dia pra noite, algo diferente deve ter acontecido, mas não sei”, explicou.
Ele reclamou que ao chegarem na UPA (Unidade de Pronto Atendimento), a primeira coisa que perguntaram foi se ela tinha covid. Com a reposta positiva, “ao invés de dar o pronto atendimento a ela, eles foram colocar as máscaras e luvas, enquanto ela ficou esperando”, contou. Essa foi a última vez que Júnior teve contato com a esposa.
Na lembrança, o marido diz que fica a imagem de mãe e esposa “excelente”, além de pessoa objetiva que era e querida por todos. “Era de um coração muito bom”, sustentou.
Para encerrar, Júnior comentou que a “causa” do alto número de casos e mortes pelo novo coronavírus em Dourados é devido o frigorífico, que deveria ser fechado por pelo menos 15 dias. “No meu entender, em Dourados, o problema é 90% do frigorífico e enquanto não tomar providencia disso, não vai melhorar. Não adianta combater e o foco continuar aberto”.
Rosi deixa, além do marido, o filhinho do casal, Arthur, que completou três anos em março.
“A gente fala pra ele que papai do céu levou a mamãe e que ela virou uma estrelinha, fica triste. Mas daí a pouco ele se esquece e pergunta dela de novo. Ele não entendeu ainda”.
Colaborou Sílvia Frias.