Armados com facão, índios ameaçam moradores e policiais em invasão
Pelo menos 150 índios já ocupam terrenos particulares no perímetro urbano de Dourados; Polícia Militar teve de ir ao local ontem à noite para evitar confronto e comandante diz que a situação é tensa
É tenso o clima entre índios e moradores de bairros da região norte de Dourados, cidade a 233 km de Campo Grande. Pelo menos 150 guarani-kaiowá desaldeados ocupam pequenas chácaras localizadas próximas ao anel viário, ao lado de bairros residenciais de classe média, no perímetro urbano da segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul. A invasão começou no dia 20 de fevereiro e o grupo dobrou desde o fim de semana passado.
Na noite desta segunda-feira (7), houve princípio de confronto entre índios e moradores, que estão assustados com a ampliação da invasão e temem ataques. Os índios teriam colocado fogo em uma propriedade e soltaram rojões.
O comandante da Polícia Militar em Dourados, tenente-coronel Carlos Silva, confirmou a situação tensa no local e disse que os índios chegaram a ameaçar moradores e policiais.
“A situação é muito tensa. Os índios estão armados com facões, foices e outros objetos. Ameaçaram os proprietários e até as nossas equipes”, afirmou Carlos Silva ao Campo Grande News, hoje de manhã.
Vanilda Alves Valentim, 32, proprietária do sítio Bom Futuro, invadido na madrugada de segunda-feira, disse que saiu de casa às 3h da madrugada, com medo de ter a residência incendiada.
Cercas cortadas - Segundo ela, que mora há 11 anos no sítio, os índios teriam cortado a cerca para soltar o gado. A região de conflito fica entre a cidade e a reserva indígena. Apesar de ficar no perímetro urbano, o local tem várias chácaras e sítios com criação de gado e lavouras.
Vanilda disse que seu marido tentou arrumar um caminhão para retirar o gado, mas os índios teriam destruído as cercas e interditado a estrada de acesso à propriedade. Os animais ficaram soltos na estrada, segundo ela. Próximo ao local existe uma rodovia estadual, o anel viário norte, que desvia o tráfego de veículos pesados do perímetro urbano.
Quatro boletins de ocorrência já foram registrados na Polícia Civil para denunciar as invasões, mas até agora não houve mandado de reintegração de posse.
Índios de fora - O caiuá Katuri, que se apresenta como líder do grupo, disse que a área, atualmente loteada para construção de casas, pertencia a seus antepassados. Assim como outros que estão no acampamento, ele veio de uma aldeia de Caarapó, município a 50 km de Dourados.
“Não queremos arrumar confusão com ninguém, queremos apenas o que é nosso de direito, a propriedade da terra. Essa região, onde hoje tem os moradores [não índios], pertencia a nossos antepassados, 40, 50 anos atrás”, afirmou ele.