Assim como Pablo Escobar, brasileiro tinha “prisão particular” e seguranças
Em 1991, para se entregar à polícia, traficante colombiano construiu sua própria cadeia; Jarvis Pavão reformou pavilhão inteiro de presídio paraguaio, onde vivia com luxo ao lado de 20 pistoleiros
Em 1991, após uma série de atentados sangrentos contra rivais, políticos e policiais, o então maior narcotraficante do mundo Pablo Emílio Escobar Gavíria negociou sua rendição com o governo da Colômbia.
Como condição principal, escolheu onde ficaria preso com seus “sicários” e reformou um prédio antigo a meia hora de Medellín, nas montanhas.
No local, chamado de “A Catedral”, Pablo ficou um ano vivendo como se estivesse em um hotel de luxo. Até os guardas estavam em sua folha de pagamento. De lá saiu para se esconder na floresta quando soube que seria transferido e foi morto pela polícia, em dezembro de 1993.
Parte da história se repetiu em Tacumbú, o maior presídio do Paraguai com 4.300 internos, onde o narcotraficante brasileiro Jarvis Gimenes Pavão cumpria pena desde 2009 por tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Nascido em Ponta Porã, Jarvis é considerado um dos maiores traficantes da América do Sul.
Assim como o “colega” colombiano, Jarvis Pavão financiou a reforma completa de um pavilhão de Tacumbú onde passava os dias cercado de pelo menos 20 pistoleiros, que também viviam com conforto como se estivessem em um hotel de alto padrão.
Os outros hóspedes do “espaço vip” de Pavão também eram condenados que deveriam estar cumprindo pena junto com a massa carcerária, mas como o narcotraficante mandava no presídio, decidiu que ficariam juntos.
Quando agentes do grupo especial da Polícia Nacional chegou ao presídio na terça-feira à noite para transferir Pavão, um pistoleiro estava na entrada da cela, de guarda. Foi dominado pelo policial e teve que se deitar no chão, sob a mira de um fuzil.
Internet – De acordo com o jornal ABC Color, um dos mais influentes do Paraguai, Jarvis Pavão ocupava dois cômodos. As paredes foram revestidas com acabamento em cerâmica e piso italiano. Móveis de qualidade, ar condicionado, TV de plasma e até um computador com internet foram levados para a cela.
Pavão também tinha à sua disposição armários cheios de roupas e calçados, geladeira com bebidas e alimentos e até um armário de vidro só com medicamentos.
O governo paraguaio não tem dúvidas de que funcionários do presídio sabiam da estrutura montada por Jarvis Pavão. Na quarta-feira, revoltada com a transferência do cliente para o quartel da polícia, uma das advogadas do narcotraficante disse que Pavão havia financiado até a reforma da sala do diretor do presídio, o refeitório e o espaço para banho de sol dos demais presos.
O novo diretor de Tacumbú, Luis Villagra, foi evasivo quando perguntado sobre o setor vip onde estava Jarvis Pavão. Alegou não ter conhecimento das irregularidades e prometeu apurar “caso a caso” a denúncia de que prisioneiros pagavam para ter regalias no local.
Vai destruir celas – Já o diretor de Correções do Ministério da Justiça do Paraguai, Julho Aguero, anunciou as celas luxuosas ocupadas por Pavão por outros internos serão destruídas para abrir mais espaço.
"Vão ser demolidas e o espaço utilizado para abrigar os outros presos”, disse. Ele não garantiu que outros internos usavam o espaço e disse ter certeza que apenas Pavão permanecia na cela vip.
“Grande benfeitor” – A advogada Laura Casuso, defensora de Jarvis Pavão, disse que seu cliente é um “grande benfeitor” e confirmou que ele mandou reformar o setor onde estava. Segundo ela, o narcotraficante “dava de comer” a outros presos, guardas da cadeia e até ao diretor da prisão.
Laura Casuso afirmou que Pavão construiu quadras esportivas e igrejas e até mesmo pagou os salários dos cozinheiros dentro do presídio. Segundo a advogada, seu cliente também contribuiu com dinheiro para a reintegração de prisioneiros “através de muitos projetos”.