ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEGUNDA  07    CAMPO GRANDE 24º

Interior

Caso marcante, julgamento da morte de líder indígena acaba sem condenados presos

Justiça entendeu que os réus não precisariam mais cumprir pena porque parte dos crimes prescreveram

Por Lucas Mamédio | 07/04/2025 16:05
Caso marcante, julgamento da morte de líder indígena acaba sem condenados presos
Foto de perfil do líder indígena Marcos Veron tirada no começo dos anos 2000 (Foto: Reprodução)

O desfecho do julgamento da morte do líder indígena Marcos Veron aconteceu de forma "silenciosa" apenas no final do ano passado, mais de duas décadas após o crime, que teve grande repercussão na época. Uma decisão da 1ª Vara Federal de Dourados de outubro de 2024 extinguiu a pena dos três réus condenados por sequestro, tortura e formação de quadrilha, durante o ataque que resultou na morte do cacique, em janeiro de 2003, no município de Juti, a 311 quilômetros de Campo Grande.

RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

O julgamento da morte do líder indígena Marcos Veron, ocorrido em 2003, terminou sem condenados presos. A Justiça extinguiu a pena de três réus condenados por sequestro, tortura e formação de quadrilha, alegando prescrição e tempo já cumprido em prisão preventiva. O crime ocorreu durante um ataque à Fazenda Brasília do Sul, área reivindicada como Terra Indígena Taquara, em Juti (MS). Veron, de 72 anos, foi espancado e morreu devido aos ferimentos. O caso gerou repercussão nacional e internacional, mas a disputa pela terra continua na Justiça.

Na prática, a Justiça entendeu que os réus não precisariam mais cumprir pena. Parte dos crimes prescreveu com o passar do tempo, e, no caso da tortura, o juiz considerou que o período em que eles ficaram presos antes do julgamento — quase cinco anos — foi suficiente para quitar a pena. Por isso, declarou extinta a punibilidade, ou seja, encerrou oficialmente a obrigação de punir os acusados.

Condenação sem pena por homicídio - O julgamento dos réus só ocorreu oito anos depois, em fevereiro de 2011, após o caso ser transferido para a Justiça Federal de São Paulo por determinação do STJ, diante de questionamentos sobre a imparcialidade do júri local.

No entanto, o júri popular não reconheceu o crime de homicídio nem a tentativa de homicídio contra os familiares. Os réus foram condenados por seis sequestros, tortura e formação de quadrilha. As penas somaram 12 anos e 3 meses de reclusão, inicialmente em regime fechado, mas nenhum dos réus retornou à prisão após a condenação, com base no tempo já cumprido em regime preventivo.

Ataque ocorreu durante disputa fundiária - O crime ocorreu entre os dias 13 e 14 de janeiro de 2003, durante um ataque à Fazenda Brasília do Sul, área reivindicada como parte da Terra Indígena Taquara. Marcos Veron, então com 72 anos, liderava um grupo Guarani-Kaiowá que buscava retomar o território tradicional, localizado em Juti.

Segundo o Ministério Público Federal, o grupo indígena foi cercado e agredido por seguranças da fazenda e pistoleiros contratados. Veron foi espancado e morreu logo depois, em decorrência dos ferimentos. Sua esposa, filhos e outros membros da comunidade também foram atacados.

O caso gerou repercussão nacional e internacional. O inquérito foi instaurado pela Polícia Federal e resultou na prisão preventiva dos três acusados ainda no primeiro semestre de 2003, que depois foram soltos em 2007.

Caso marcante, julgamento da morte de líder indígena acaba sem condenados presos
Marcos Veron, então com 72 anos, liderava um grupo Guarani-Kaiowá em Juti (Foto: Reprodução)

Terra segue em disputa judicial - A área onde o crime ocorreu continua no centro de uma disputa judicial entre a Funai e proprietários rurais, envolvendo diretamente os Guarani-Kaiowá e a União. A ação possessória, movida em 2001, tramita na Justiça Federal de Dourados e permanece suspensa por decisão do STF por conta do debate sobre a tese do Marco Temporal.

Enquanto isso, todas as ações judiciais envolvendo demarcações de terras indígenas ou disputas possessórias, como o caso da Terra Indígena Taquara, permanecem paralisadas.

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.

Nos siga no Google Notícias