Com um filho no braço e outro na cela, Maria vive saga das mães de usuários
Em frente a presídio, ela procura por equipes de reportagem, quer contar que o filho precisa de tratamento e não de cadeia
Os olhos de Maria Lourdes Souza, 36 anos, encaram o portão do presídio de Pedro Juan Caballero, epicentro da fuga em massa que virou notícia no mundo.
Na manhã de quinta-feira (dia 23), em que o clima se alterna entre chuviscos e sol quente, muitos pares de olhos também fazem o mesmo: seja dos visitantes dos internos, dos militares do exército encarapitados sobre o tanque de guerra ou do cachorro que segue um grupo de agentes, mas dá de cara com o fechamento abrupto da grade de ferro.
Mas o olhar de Maria é de quem busca o filho de 18 anos, que desde aquela manhã era mais um preso da unidade. No braço, leva outro menino, esse de três meses. A mãe procura por equipes de reportagem, quer contar que teme perder o filho para as drogas e que procurou a Defensoria Pública local em busca de sua liberdade. Aos 18 anos, Hugo foi preso em 12 de janeiro, por não pagar por combustível. “Foi pouca coisa”, diz Maria Lourdes, uma empregada doméstica atualmente desempregada.
Ela relata que pagou a conta, mas, solto, o filho agrediu a avó, resultando em nova prisão, desta vez sendo deixado no presídio. A mãe foi levar medicamentos, mas conta que não pode ver o filho. Maria diz que vai tentar uma clínica de desintoxicação para o filho em Ponta Porã, lado brasileiro da fronteira, dessas mantidas por entidades assistenciais.
“Fui pai e mãe dele. Foi uma criança que não faltou nada, mas logo parou de estudar”, diz. No presídio, é avisada de que precisa levar almoço para o filho. Pouco depois, ela retorna, desta vez sem o caçula, mas com sacola com salgado e refrigerante de dois litros.
Localizado na periferia de Pedro Juan, o principal acesso para a unidade é a rua Naciones Unidas, onde as pedras fazem os veículos passarem a chacoalhões. O complexo penal abriga o presídio em que o pavilhão da frente é destinado a mulheres e os demais aos homens. Na proximidade também fica o local destinado aos menores de idade.
Na última quinta-feira, a manhã foi de movimento intenso. Representantes do setor de obras do Ministério da Justiça faziam levantamentos sobre o túnel, ora dentro da unidade, ora na boca do buraco, ainda visível na lateral do presídio.
Os visitantes levavam sacolas com comidas, a exemplo de Campo Grande, a maioria é de mulheres, muitas em companhia de crianças. No decoro da prisão, elas trajam saia abaixo do joelho, blusa sem decote e calçado sem salto.
Na fila, um garotinho, com camiseta do São Paulo, brinca com um pequeno revólver de brinquedo. Enquanto militares e homens da equipe especial da Polícia Nacional levam nas mãos armas de cano longo.
Ainda entre versões imprecisas, 76 presos, sendo 40 brasileiros ligados à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) fugiram, seja pelo portão da frente ou por túnel, fugiram no último domingo, expondo a fragilidade do sistema penal diante da corrupção.