Comandante é acusado de fraude para proteger PM que matou em cinema
Promotora da Auditoria Militar mandou instaurar IPM para investigar denúncia de que oficial forjou boletim para ajudar amigo
A Promotoria de Justiça da Auditoria Militar requisitou a instauração de IPM (Inquérito Policial Militar) contra o tenente-coronel Carlos Silva por suposta fraude em boletim de ocorrência para proteger o cabo Dijavan Batista dos Santos, autor confesso do assassinato ocorrido no dia 8 de julho deste ano dentro da sala de cinema do shopping center de Dourados, a 233 km de Campo Grande.
Comandante do 3º Batalhão da PM em Dourados, Carlos Silva é apontado como amigo pessoal de Dijavan, que até o dia do crime estava lotado na Polícia Militar Ambiental, atualmente recolhido no Presídio Militar na Capital.
O caso começou a ser investigado após denúncia anônima feita à Ouvidoria do Ministério Público dois dias depois do assassinato do bioquímico Julio Cesar Cerveira Filho, 43, durante suposta discussão por causa da poltrona ocupada pela vítima.
Dijavan sustenta que o tiro que matou Julio foi acidental, no momento em que o bioquímico teria tentado lhe tomar a arma, uma pistola calibre 40 sem registro, ou seja, ilegal. A Polícia Civil indiciou o PM por homicídio diante da versão de que o tiro foi disparado após a briga ter cessado.
Falso testemunho – A “notícia de fato” com a denúncia envolvendo o tenente-coronel foi instaurada pelo Ministério Público logo após a denúncia anônima, que apontou suposta interferência direta de Carlos Silva para montar uma história aliviando a culpa do cabo Dijavan.
“Há fontes seguras de que o tenente-coronel Carlos da Silva comandante do 3° BPM, uma vez que se tratava de policial militar envolvido em assassinato de grande repercussão e repúdio social, para tanto invocou a responsabilidade da ocorrência policial militar para si, assim como todos os seus procedimentos de autuação, uma vez que, é amigo pessoal do cabo PM Dijavan”, diz a denúncia à qual o Campo Grande News teve acesso.
Ainda de acordo com a denúncia anônima, o comandante do 3º Batalhão da PM em Dourados teria retardado a condução de Dijavan até a Delegacia de Polícia Civil, “com a finalidade de ganhar tempo e elaborar um álibi consistente”. A morte ocorreu por volta de 14h15, mas Dijavan só foi entregue à Polícia Civil após as 18h do dia 8 de julho.
“Há informações que em razão de sua patente de coronel e por ser comandante do 3° BPM, determinou os PMs que alterassem o histórico da ocorrência policial, assim como os policiais foram orientados no sentido de inserir declaração falsa ou diversa da que deveria ser escrita no Boletim de Ocorrência Militar”, afirma a denúncia.
Conforme a denúncia feita ao MP, após matar Julio Cesar com um tiro, o cabo Dijavan teria tentado fugir do shopping, mas teria sido abordado por uma equipe da própria Polícia Militar. A versão narrada pelo comandante no dia da morte era que o próprio autor teria ligado para o Ciops (Centro Integrado de Operações de Segurança) e para o Corpo de Bombeiros.
“Não resta dúvida que o delegado se baseou preliminarmente nas informações colhidas da Ocorrência Policial da PMMS escrita e engendrada pelo tenente-coronel Carlos Silva. Assim como, o suposto autor foi orientado a sustentar a mesma história fantasiosa criada pelo comandante do 3° BPM”, afirma a denúncia.
Depoimentos – Nesta semana, a promotora da Auditoria Militar Estadual Tathiana Correa Pereira da Silva Façanha requisitou do Corregedor-Geral da PMMS Voltaire Flamarion Garcia Diniz a instauração de Inquérito Policial Militar para apurar os fatos relatados.
A promotora requisita depoimentos de todos os envolvidos no caso, incluindo os quatro PMs responsáveis pela prisão de Dijavan Batista dos Santos, para saber deles o tempo decorrido entre a prisão e a apresentação dele à Polícia Civil e se existiu alguma orientação por parte do tenente-coronel Carlos Silva.
Tathiana Façanha também requisita depoimentos do oficial denunciado, do PM preso pelo assassinato, de cinco testemunhas do assassinato, dos bombeiros civis do Shopping Avenida Center e dos bombeiros militares que atenderam a ocorrência.
Ela também requisitou cópia do inquérito policial que apura o crime de homicídio, cópia da gravação das chamadas ao Ciops, referentes aos fatos que levaram à prisão em flagrante, especialmente as que tenham sido realizadas pelo flagrado ou pelo tenente-coronel Carlos da Silva, cópia das gravações de videomonitoramento de câmeras do cinema, das saídas e do estacionamento do shopping.
Comandante – Ao Campo Grande News, o tenente-coronel Carlos Silva informou que ainda não foi notificado oficialmente e por isso não tem conhecimento do teor da denúncia. Ele afirma, no entanto, que todos os procedimentos em relação ao caso foram adotados dentro da lei e das normas da corporação.