Contingenciamento de recursos ameaça monitoramento da fronteira
Ao receber adidos militares de 18 países nesta segunda-feira, comandante da 4ª Brigada disse que atraso já existe, mas o maior temor é o fim do projeto por falta de verba
O contingenciamento de recursos adotado pelo governo da presidente Dilma Rousseff (PT) em função da crise financeira ameaça a continuidade do maior projeto de vigilância de fronteira do mundo, o Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras). Mesmo antes do corte de gastos anunciado na semana passada, o Exército já esperava receber apenas um terço da verba prevista para 2016. Agora, o futuro do sistema é uma incógnita.
Iniciado em 2013, mas lançado oficialmente em novembro do ano passado, o projeto-piloto do sistema está sendo implantado em uma extensão de 650 km da fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai e até para essa primeira etapa já começou a faltar dinheiro.
Só metade do dinheiro – O general Rui Yutaka Matsuda, comandante da 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, disse hoje em Dourados, a 233 km de Campo Grande, que até agora apenas foi investida apenas a metade do dinheiro previsto para o sistema de monitoramento de fronteiras. O Sisfron foi orçado em R$ 11 bilhões e com previsão de ser totalmente instalado nos 16 mil km de fronteira seca do país até 2021.
“Inicialmente a previsão era de investimento de R$ 1 bilhão por ano – o que totalizaria R$ 3 bilhões. Até agora foram investidos 1 bilhão e meio de reais”, afirmou Matsuda, ao receber nesta segunda-feira, 23 adidos militares de 16 países, que estão em Dourados para conhecer o sistema de monitoramento. O grupo veio de avião de Brasília, acompanhado por jornalistas da capital federal e da agência internacional de notícias Reuters.
Futuro incerto – Levando em conta que o Sisfron começou a ser implantado em 2013, o projeto já deveria ter recebido R$ 2 bilhões e mais R$ 1 bilhão em 2015. Entretanto, Matsuda informou que neste ano o Exército receberia apenas R$ 230 milhões. Só que esse valor foi previsto antes do contingenciamento.
“Agora não sabemos se esse valor será mantido, se vai diminuir ou se vai aumentar. Os atrasos certamente ocorrerão, mas estamos trabalhando para evitar a descontinuidade do projeto”, declarou o general, que coordena a implantação do projeto-piloto do Sisfron. Descontinuidade seria o abandono do Sisfron.
Sistema atrasado – Embora o Exército não saiba ainda se terá dinheiro para dar continuidade ao projeto, o general Matsuda afirma que a liberação abaixo dos valores previstos inicialmente já reflete na implantação física do sistema de monitoramento, que até agora foi feito em apenas 70% dos 650 km da primeira etapa.
“Estamos recebendo menos recursos que o previsto e por isso o Exército teve de investir R$ 400 milhões de recursos próprios”, afirmou.
Não é só defesa – Apesar de ameaçado pela crise do governo Dilma, o Sisfron é apontado pelo Exército como a salvação para o desenvolvimento das regiões de fronteira. “O sistema não é importante só para a defesa do país. É isso que os adidos militares vão ver aqui hoje. O Sisfron vai ajudar no desenvolvimento da agropecuária, na vigilância ao meio ambiente e recursos naturais e na segurança pública”, disse Matsuda.
O general citou como exemplo a vigilância do rebanho bovino para controle de doenças como a febre aftosa. “Com o monitoramento por câmeras de longo alcance e sensores, além dos satélites que estão previstos, será possível controlar, por exemplo, a entrada de rebanho de outros países. Em defesa do meio ambiente, o Sisfron vai permitir proteção maior a nossas florestas”.
Complexo e tecnológico – Se não for afetado pela falta de dinheiro, o Sisfron – desenvolvido pelas empresas Savis Tecnologia e Sistemas S/A e OrbiSat Indústria e Aerolevantamento S/A, controladas pela Embraer Defesa e Segurança – será implantado em toda a faixa de fronteira do país.
O sistema inclui a instalação de sensores terrestres e aéreos, câmeras capazes de identificar a placa de um veículo a 15 km de distância, vants (veículos aéreos não tripulados), e radares controlados por satélite, todos ligados por cabos de fibra ótica.
Em Mato Grosso do Sul, onde é desenvolvido o projeto-piloto, a central de comando funciona em Dourados, mas há equipe em outras regiões e na Capital.
Copa de árvores – Nessa região o sistema é mais fácil de ser implantado, porque o grande desafio, segundo o Exército, é fazer o sistema de cabeamento, que aqui em Mato Grosso do Sul é feito embaixo da terra. Na Amazônia, entretanto, os cabos terão de ser puxados sob a água dos rios, ou até mesmo em cima de árvores.
“Mesmo com a liberação de recursos abaixo do previsto, os estudos já estão andamento em outras regiões para expansão do Sisfron. Na Amazônia estamos estudando uma forma de passar os cabos inclusive sobre a copa das árvores porque lá as estradas são os rios”, afirmou Matsuda.
Adidos – Entre os 25 adidos militares presentes hoje em Dourados estão o coronel norte-americano Jose Antonio Espinosa Huertas, o coronel inglês Simon Hindmarsh, adido do Reino Unido, e o coronel Egorkin Alexey e o tenente-coronel Evgeny Krodyrev, os dois da Rússia.
Representantes militares de países sul-americanos também se interessaram em conhecer o Sisfron, entre eles o venezuelano Jesús Guillermo Clemente Rolas, o general colombiano Fernando Cabrera Artunduaga e o coronel peruano Walter Martin Alzamora. A Embaixada do Iraque também mandou um representante, mas o nome dele não foi colocado na lista divulgada pelo Exército.