Contradições em depoimentos levaram à prisão de piloto e vigia de hangar
Dupla foi presa na manhã desta quinta-feira (27) em Paranaíba
Divergências nos depoimentos durante a investigação de suposto sequestro e roubo de uma aeronave do modelo Cessna 182 Skylane, levaram à prisão temporária do piloto Edmur Guimara Bernardes, 78 anos, e do vigia Idevan Silva de Oliveira, 52 anos. A dupla foi presa na manhã desta quinta-feira (27) em Paranaíba, cidade distante a 422 quilômetros de Campo Grande, durante a fase Rota Caipira da Operação Ícaro.
Os dois viraram suspeitos logo depois do piloto reaparecer com a aeronave. "Levantou suspeita da Polícia Civil o fato de no dia seguinte ao crime, o piloto pousar com a aeronave no aeroporto de Cáceres, no Mato Grosso, alegando que conseguiu fugir e decolar com o avião durante um descuido dos hipotéticos sequestradores", informa nota enviada pela Polícia Civil.
Os dois também apresentaram versões diferentes das imagens colhidas pelo sistema de câmeras do hangar.
Segundo a delegada Ana Cláudia Medina, da Deco (Delegacia Especializada de Combate ao Crime Organizado), a equipe policial chegou a Paranaíba na segunda-feira (24) e deu início as entrevistas para, inclusive, com a reprodução simulada do que ocorreu no aeroporto.
''Tivemos uma série de divergências nas versões prestadas oficialmente pelo Idevan e também pelo Edmur. Não tivemos outra opção a não ser fazer essas prisões temporárias que foram cumpridas hoje", disse Medina ao site Destak Agora.
Um dos detalhes apresentados por ela é o fato de Idevan ter dito que foi trancado pelos bandidos. Mas ao analisar o local, a polícia percebeu que qualquer pessoa teria muita dificuldade em fazer isso, por conta de problemas na fechadura. "Ele mesmo teve dificuldade de fechar pelo lado de fora".
Conforme a delegada, um terceiro morador da cidade, também com vínculo com a área da aviação, é outro alvo das investigações. ''Está sendo investigado por conta de denúncias. A casa dele em uma fazenda passou por busca e apreensão para que nós pudéssemos apurar o que estava sendo denunciado, essas divergências apresentadas", explicou.
Nesta fase da investigação, a polícia trabalha com dados de câmeras de segurança, versões apresentadas pelos envolvidos e testemunhas. ''Várias pessoas foram vistas aqui, inclusive, há retratos falados. Mas também temos informações de que as vítimas que registraram os retratos não falaram a verdade'', disse.
Além dos dois mandados de prisão temporária, estão sendo cumpridos na cidade cinco de busca e apreensão em residências, fazenda e outros hangares do aeroporto municipal.
O caso - À polícia, Edmur contou que estava em casa na manhã do dia 18 de junho, quando foi surpreendido pelo sequestradores e levado para o hangar no aeroporto. Em depoimento, ele contou que "foi obrigado a comandar a aeronave utilizando rota que compreende uma fazenda na região de Concepcion, no Paraguai, onde pernoitaram com a aeronave. No local se encontraria com uma liderança de organização criminosa, que aguardava para usar a aeronave para ir até uma fazenda na Bolívia".
Passagens - Um dos registros mais recentes da ficha policial de Edmur é de 2017. Um avião de pequeno porte, em nome dele, foi encontrado abandonado em uma lavoura de milho às margens da rodovia BR-163, no município de Mundo Novo, sul do Estado.
Na época, a Polícia Civil foi acionada por vizinhos que viram o avião fazendo um pouso de emergência próximo ao pedágio da rodovia. De acordo com o delegado, Claudinei Galinares, que respondeu pelo caso, a suspeita era de que a aeronave estivesse sendo “usada para contrabando, descaminho ou tráfico, pela forma que foi encontrada”.
Dois anos antes, em 2015, Edmur respondeu processo por pegar um avião sem autorização e nem mesmo plano de voo, com objetivo de atravessar a fronteira com o Paraguai. Na época, ele confessou que a intenção da viagem era pegar produtos de descaminho. A ação foi evitada após a aeronave ser interceptada pela FAB (Força Área Brasileira).
A ficha do suspeito também traz uma apreensão de cigarros e aparelhos eletrônicos que, segundo reportagem no ano de 2013, acabou na prisão de três pessoas, todas de Goiás. A mercadoria seria transportada em um avião que estava parado no hangar que pertencia a Edmur, em Paranaíba.
Treze anos antes, em 2000, o piloto havia sido preso em operação da Polícia Federal contra tráfico de drogas. Conforme reportagem do site Diário da Região, de São José do Rio Preto, o grupo no qual Edmur fazia parte era suspeito de transportar drogas em uma aeronave. Equipes policiais flagraram o momento que os entorpecentes eram descarregados do avião e transferidos para o fundo falso de um caminhão.
Na ocasião, Edmur teria sido a pessoa que fechou o hangar após a entrada da aeronave e que ajudou na transferência da droga.