Cultivo de tomate fracassa e maconha ganha terreno na fronteira com MS
Dois anos após governo paraguaio anunciar programa para incentivar agricultores a abandonar cultivo de maconha, lavouras da droga continuam avançando em três estados vizinhos do Brasil
O cultivo de maconha está fora de controle em três estados da região norte do Paraguai. Amambay e Canindeyú, vizinhos de Mato Grosso do Sul, e San Pedro, também perto com a fronteira brasileira, produzem 90% da maconha consumida na América do Sul e até agora todas as tentativas de acabar com as roças de marihuana fracassaram completamente.
Há dois anos, o governo paraguaio tentou convencer os trabalhadores dessa região a trocar o cultivo da maconha por lavouras de tomate, mas, como as grandes apreensões feitas no Brasil mostram, a estratégia naufragou.
Reportagem especial do jornal ABC Color, feita para lembrar os dois anos da medida do governo, revela que boa parte dos 40 mil pés de tomate apodreceu nas roças porque os agricultores não tinham para quem vender, nem estradas em boas condições para escoar a produção.
Comerciantes locais aproveitaram para explorar os trabalhadores pagando uma mixaria pelo tomate e poucos meses depois as terras já estavam de novo ocupadas com lavouras de maconha.
Empregados do tráfico – O abandono por parte do governo dos moradores dessas áreas pobres da zona rural do Paraguai, muitas delas localizadas no meio de matas, como ocorre nos arredores de Capitán Bado, cidade paraguaia vizinha de Coronel Sapucaia (MS), leva centenas de pessoas a trabalharem para as quadrilhas de traficantes, cultivando maconha.
Apesar de pequeno em relação ao faturamento dos traficantes, o lucro dos agricultores com a maconha é até 20 vezes maior do que com qualquer outro produto, segundo agentes da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) do Paraguai.
Com a presença das facções criminosas PCC (Primeiro Comando da Capital) e Comando Vermelho na fronteira, financiando a produção de maconha para atender o mercado brasileiro, as lavouras só aumentam.
Além disso, segundo fontes ouvidas pelo ABC Color, é preciso atender o mercado consumidor argentino e o “oásis” dos traficantes, o Chile, onde o quilo da maconha pode custar dois mil dólares.
Operações inócuas – O resultado são centenas e centenas de hectares ocupados com a erva. Todos os anos, a Senad faz operações pirotécnicas para cortar e queimar a maconha, mas assim que os agentes deixam as áreas uma nova lavoura surge em poucos dias.
Nesses três estados paraguaios, a ausência do Estado tornou os financiadores da produção de maconha a única esperança para os moradores.
Maconha na Argentina – A reportagem do ABC cita que o poder dos traficantes é tanto que o fluxo incessante de maconha para a Argentina gerou uma série de escândalos com a prisão de autoridades políticas e policiais ligadas à estrutura criminosa.
Na mais recente operação contra as lavouras de maconha a Senad do Paraguai conseguiu eliminar 521 hectares nas montanhas entre San Pedro e Amambay e queimou 208,7 toneladas já colhidas e prontas para serem distribuídas.
Apesar de outros compradores emergentes na América do Sul, o Brasil continua sendo o principal mercado da maconha paraguaia. Os traficantes usam de todos os meios para transportar toneladas da droga por estradas.
Segundo os investigadores ouvidos pelo ABC Color, a cumplicidade de algumas autoridades desempenha “papel fundamental” para que grandes carregamentos cruzem a fronteira e cheguem às principais cidades brasileiras.