“Galã do PCC” vira réu por empresa de fachada dona de 36 imóveis em Ponta Porã
MPF aponta que construtora foi constituída com objetivo de lavar o dinheiro do grupo criminoso
A 3ª Vara da Justiça Federal de Campo Grande aceitou denúncia contra Elton Leonel Rumich da Silva, o Galã do PCC (Primeiro Comando da Capital), e familiares por manter empresa de fachada, proprietária formal de 36 imóveis em Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai. O grupo foi alvo da operação Spollium, realizada pela PF (Polícia Federal) no mês de março.
De acordo com o MPF (Ministério Público Federal), a Construtora JB Progresso recebia imóveis e veículos para ocultar a origem ilícita dos bens. A empresa teve atividade suspensa pela Justiça.
As investigações apontam para compra, venda e simulações de transferências de imóveis localizados em Ponta Porã e cidades de São Paulo (Diadema, Santos e Presidente Prudente) em nome de laranjas ou da empresa de fachada.
Segundo a denúncia, as transações totalizaram 43 atos de lavagem de dinheiro entre 2013 e 2019. Atualmente, a JB ainda figura como proprietária formal de 36 imóveis localizados em Ponta Porã. Também foi constatado ao menos 8 atos de lavagem de dinheiro envolvendo veículos.
A organização criminosa mantinha planilhas de controle das despesas referentes à empresa e, muitas vezes, a contabilidade se confundia com registros financeiros do tráfico de drogas e de armas. Conforme o MPF, comprovando que a pessoa jurídica foi constituída unicamente com o objetivo de lavar o dinheiro do grupo criminoso.
A denúncia foi aceita pela juíza Júlia Cavalcante Silva Barbosa. “Em concreto, a peça descreve com suficiência a existência de uma organização criminosa estruturada, em tese, liderada por Elton Leonel Rumich da Silva que, auxiliado por pessoas de sua confiança, teria ocultado a propriedade de direitos societários sobre a JB Progresso, empresa por meio da qual passou a adquirir bens para, em seguida, ocultar-lhes e dissimular-lhes a propriedade mediante o registro em nome de interpostas pessoas”, informa a magistrada.
As pessoas de confiança de Elton seriam três mulheres com quem teve relacionamentos amorosos e filhos, além de um ex-cunhado e o irmão de seu construtor. Os cinco também são réus na ação por lavagem de dinheiro.
Quando alguém ganha dinheiro de forma ilícita, como tráfico de drogas ou corrupção, precisa ocultar a origem da “grana suja”, a lavagem de capitais cria uma falsa justificativa para os valores.
Galã está na penitenciária federal de Mossoró (Rio Grande do Norte). Ele foi transferido do sistema penitenciário estadual do Rio de Janeiro após a identificação de plano de fuga orçado em R$ 2 milhões.
Processos em MS – Galã é apontado como mentor da execução de Jorge Rafaat, morto em Pedro Juan Caballero, na fronteira com Ponta Porã. No ano passado, também foi acusado de ordenar a violação do túmulo de Rafaat, sendo absolvido pela Justiça Federal de Ponta Porã por falta de provas.
Mas acabou condenado a 19 anos de prisão por organização criminosa, com pagamento de multa de R$ 4 milhões. Ele também responde por lavagem de dinheiro em outro processo que corre na 3ª Vara Federal de Campo Grande.