Governo paraguaio fabricou munições usadas em chacina na fronteira
Parte das 110 cápsulas recolhidas no local do ataque tinha marca da Direção de Material Bélico
Pelo menos parte das balas calibres 5,56 e 7,62 usadas na chacina com quatro mortos e dois feridos na fronteira, na madrugada de sábado (9), foi fabricada pelo governo do Paraguai.
Entre as cápsulas deflagradas, recolhidas pelo Departamento de Criminalística da Polícia Nacional, estão cartuchos com a marca da Dimabel (Dirección de Material Bélico), que fabrica as munições usadas pelas forças armadas paraguaias.
A chacina ocorreu em Pedro Juan Caballero no momento em que as vítimas saíam de uma boate. Morreram no local Osmar Vicente Álvarez Grance, 29, o “Bebeto”, e três estudantes de Medicina que tinham acabado de sair com ele da festa – Haylee Carolina Acevedo Yunis, 21, filha do governador de Amambay Ronald Acevedo, a mato-grossense Rhamye Jamilly Borges de Oliveira, 18, e a douradense Kaline Reinoso de Oliveira, 22.
O paraguaio Bruno Elias Pereira Sanches, 18, e a também estudante de medicina Rhafaelly de Nascimento Alves, de Rondônia, ficaram feridos.
Hoje (13), o presidente da República Mario Abdo Benítez anunciou mudança no comando da Dimabel, mas não fez qualquer referência ao suposto uso de munições fabricadas pelo governo na chacina que deixou entre as vítimas a filha de um de seus adversários políticos.
Ele nomeou para o cargo o general Aldo Daniel Ozuna Recalde, que assume a direção em substituição ao comandante de Navio Pedro Rubén Vallejos.
Oficialmente, a mudança ocorreu por causa do desaparecimento de pistolas e fuzis, apreendidos pela Senad (Secretaria Nacional antidrogas) em 2018, durante operação contra membros do Comando Vermelho em território paraguaio.
As armas foram vendidas de dentro da Dimabel para a quadrilha de Jorge Teófilo Samudio González, o “Samura”, resgatado pela quadrilha em setembro de 2019 e recapturado no Brasil, em março deste ano.
Outros ataques – O Campo Grande News apurou com fontes da fronteira que fuzis usados pelos três pistoleiros no ataque de sábado teriam sido utilizados em atentados semelhantes com pelo menos outras dez mortes em Pedro Juan Caballero e Capitán Bado.
Uma das armas teria sido usada na morte do paraguaio Celso Maldonado Duarte, 46, o “Maracanã”, executado com pelo menos 35 tiros de fuzil na noite de 28 de janeiro de 2020, em Capitán Bado.
Apontado como aliado do narcotraficante sul-mato-grossense Jarvis Gimenes Pavão (atualmente no presídio federal em Brasília), Celso Duarte foi morto em sua casa, quando fazia churrasco para o jogador de futsal Fabio Anibal Alcaraz Arguello, o “Cacho”, 38, ferido com cinco tiros. O atleta sobreviveu.
O ataque deixou outros três feridos levemente e causou a morte da brasileira Gesica Nunes Arévalos, 25, servidora da Prefeitura de Coronel Sapucaia, que também estava no churrasco.