Infectada ao dividir tereré, Eliana morreu aos 40, duas semanas após diagnóstico
Marido, João Carlos, conta que foram sete anos juntos, "colados"
Durou sete anos o relacionamento de João Carlos Queiroz, 58 anos e Eliana da Silva Oliveira, 40. Ainda jovem, ela sofria de problemas renais e estava prestes a começar hemodiálise, como conta o marido. Mas a covid-19 foi mais rápida, e levou Eliana no dia 18 de junho.
“Ela era puro coração, uma pessoa muito boa e deve estar nos braços de Deus agora”, relata João, que afirma sentir uma saudade imensa da esposa, com quem acreditava que iria envelhecer. Moradores de Dourados, a 230 Km de Campo Grande, o casal se conheceu em uma festa e nunca mais se separou.
Eliana se infectou com covid-19 tomando tereré, o que João, que é dono de uma loja de pneus, diz ter certeza. “Ela tomou tereré com uma guria que estava contaminada, mas ela não sabia que a guria estava doente, nem a guria mesmo”, contou.
Três dias depois, os primeiros sintomas do novo coronavírus apareceram e Eliana, que era dona de casa, começou a tossir e espirrar, além de ter apresentado febre. “Levei ela ao Hospital do Coração e fizeram uma tomografia no pulmão e viram que os dois pulmões estavam infectados”, revela João.
Segundo ele, os médicos identificaram que os órgãos estavam muito debilitados para ser uma pneumonia comum e afirmaram que “nenhum pneumonia se alastra rápido assim” e por isso, acendeu-se o alerta de covid-19, o que foi confirmado dias depois.
O marido lembra que a esposa tinha imunidade baixa porque já havia perdido um rim e o outro estava funcionando com apenas 20% da capacidade. Por isso ela estava prestes a começar hemodiálise. Além disso, “ela tinha pressão alta por causa do rim”, revela.
Diagnosticada com covid-19 em 9 de junho, Eliana foi internada no Hospital Santa Rita, com febre alta e tosse. Passou a receber oxigênio e “no outro dia de manhã o rim já parou e tiveram que fazer hemodiálise”, contou João Carlos.
Ele lembra que “infeccionou demais o pulmão e alastrou também para o fígado, que infeccionou. Ela estava amarelinha”, lamentou.
João foi testado, mas não apresentou contaminação pela doença. Ele afirma que logo que os casos do novo coronavírus começaram, ele tentava já manter o distanciamento e tomar as medidas para evitar contágio. “A gente evitava até pegar na mão”, contou.
Mas todo cuidado não adiantou e agora, segundo João Carlos, existe apenas a falta. “Foram sete anos colados, dia e noite”, relembra.
João, emocionado, não quis mais falar com a reportagem e depois de contar os detalhes descritos, se apressou em desligar o telefone.
Eliana deixa dois filhos de 17 e 23 anos de idade. Ela foi a 39ª vítima do novo coronavírus em Mato Grosso do Sul, onde 55 pessoas já morreram da doença. São 5.784 casos confirmados em MS, sendo 1.964 somente em Dourados, considerado atual epicentro da covid-19 no Estado.