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Interior

Mesmo com suspensão de despejo, tensão permanece em áreas ocupadas

Homens do Exército mantêm vigilância na sede da Fazenda Fronteira, produtores evitam contato com a imprensa e índios expulsam jornalistas de local onde Semião Fernandes foi morto

Helio de Freitas, enviado especial a Antonio João | 21/10/2015 15:20
Homens do Exército em frente à sede da Fazenda Fronteira; ao fundo local onde foi enterrado o corpo de Semião Vilhalva (Foto: Eliel Oliveira)
Homens do Exército em frente à sede da Fazenda Fronteira; ao fundo local onde foi enterrado o corpo de Semião Vilhalva (Foto: Eliel Oliveira)

A decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de suspender a reintegração de posse de três fazendas ocupadas por índios no município de Antonio João, a 279 km de Campo Grande, não mudou o clima de tensão na área. Mesmo com a presença do Exército em vários locais das propriedades ocupadas, o temor de novos confrontos permanece.

Proprietários de áreas ocupadas evitam contato com a imprensa e os índios demonstraram hostilidade com alguns veículos de comunicação. As equipes do Campo Grande News e do Correio do Estado foram “convidadas” a se retirarem de um dos acampamentos, mesmo com a presença de outros jornalistas no local. O motivo não foi informado.

A reportagem foi ao Sindicato Rural de Antonio João para falar com a presidente da entidade, Roseli Ruiz Silva, proprietária de uma das fazendas ocupadas. Ela não estava no local. A pedido do Campo Grande News, a funcionária do sindicato ligou para Roseli e ela mandou dizer que não daria entrevista.

O Campo Grande News retornou às áreas ocupadas. Na entrada das fazendas, militares do Exército obrigam todos que chegam ao local a se identificarem, tiram foto das credenciais e anotam os nomes numa lista. Na saída, mais uma rodada de perguntas e até vistoria no porta-malas do carro.

Nas estradas que cortam a área ocupada há 15 anos pelos índios e as fazendas invadidas há dois meses o clima era de aparente tranquilidade nesta manhã. Os índios que faziam vigilância em alguns pontos na tarde desta terça (20) não estavam mais nos locais.

Exército na porta – Na Fazenda Fronteira, uma das propriedades ocupadas pelos índios e que faz parte da área de 9.300 hectares reivindicada como o território Ñanderu Marangatu, soldados do Exército usando um blindado equipado com metralhadora permanecem a 50 metros da sede, onde mora o proprietário, o ex-prefeito de Antonio João, Dácio Queiroz Silva.

Queiroz também não quis falar com a reportagem. Mandou um peão dizer que estava “abalado” e não iria conceder entrevista.

Jornalistas expulsos – Em cima do blindado do Exército permanece um soldado com binóculo, observando o tempo todo o acampamento montado pelos índios do outro lado de um riacho, a cerca de 500 metros da sede da Fronteira. Foi desse acampamento que os jornalistas foram expulsos.

Mesmo com a presença de repórteres de outros meios de comunicação no local e diante do coordenador regional da Funai, Élder Paulo Ribas da Silva, um grupo de índios, entre eles Leni Aquino – uma das líderes do grupo e que ontem tinha falado que, se a reintegração fosse mantida, os índios não iriam resistir, porque não são bandidos – se aproximou e mandou os jornalistas se retirarem.

“Queremos pedir que vocês se retirem, por favor, estamos aqui em um momento nosso e não vamos dar entrevista”, afirmou um dos índios. O local onde eles estavam é perto do túmulo de Semião Fernandes Vilhalva, 24, morto em confronto com fazendeiros no dia 29 de agosto deste ano.

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