Pai e tia de Marielly acompanham júri e relembram pistas que elucidaram crime
Investigadora falou de um detalhe que ligou Hugleice ao local do corpo: embalagens de Halls preto
No julgamento de envolvidos na morte de Marielly Barbosa Rodrigues, apenas o pai, Marcos Rodrigues, e uma tia paterna da vítima apareceram. Os dois sentaram na primeira fila do auditório do Fórum de Sidrolândia, onde júri popular vai decidir se o cunhado e um enfermeiro são responsáveis por aborto seguido de morte e ocultação de cadáver.
Atentos ao julgamento, nenhum quis dar entrevista na manhã desta quinta-feira. A tia, Renata, se limitou a dizer que “a mãe de Marielly não veio”. A tia chorou ao ouvir um dos primeiros depoimentos do dia, da investigadora Maria Campos, que trabalhou nas buscas da jovem.
A policial contou que sempre desconfiou do cunhado de Marielly, Hugleice Silva, “Começou a me elogiar muito, me chamava de doutora. Começou a se aproximar muito de mim e percebi que ele estava tentando ganhar a minha confiança. O tempo todo tentava puxar eu para o lado dele”.
Segundo ela, quando acharam o corpo da estudante, o cunhado tentou ganhar tempo. "O Hugleice disse na hora do reconhecimento: 'acho que não é, acho que não é', e foi embora. Mudou-se para Alto Taquari assim que encontraram o corpo”.
Ela também lembrou de um detalhe que reforçou a ligação de Hugleice com o local onde o corpo foi encontrado. Ele sempre oferecia Halls preto à investigadora, mesma bala de embalagens encontradas no local onde o corpo estava.
Na avaliação de Maria Campos. "Hugleice era como uma figura de pai, depois que o Marcos (pai da Marielly) separou da mãe da Mariely”.
Escândalo em família
A família tem papel fundamental nessa história que começou em maio de 2011. Após o desaparecimento da filha, a mãe Eliane Barbosa Rodrigues e a irmã mais velha de Marielly, Mayara Bianca, registraram Boletim de Ocorrência em busca da estudante e fizeram até manifestação na Avenida Afonso Pena, apelando por informações.
Semanas depois, o corpo foi encontrado e a perícia desenhou como tudo ocorreu. A jovem havia engravidado do próprio cunhado, marido de Mayara, que convenceu Marielly a fazer aborto. Por R$ 500, ele contratou o enfermeiro Jodimar Ximenes Gomes para procedimento em Sidrolândia. Mas tudo deu errado e por isso os dois são julgados hoje.
A jovem morreu, Hugleice e o enfermeiro ocultaram o corpo e negaram por dias o envolvimento. Durante as investigações, a polícia civil também chegou à conclusão que família dela “mentiu muito” e atrapalhou as investigações. O delegado responsável à época, Fabiano Góes Nagata, garantiu que mãe e irmã tentaram encobrir a participação de Hugleice, inclusive, criando álibi falso.
Segundo a Polícia Civil, todos os familiares da garota declararam em depoimento que o rapaz estava em casa, em frente ao computador às 18 horas do dia 21 de maio, sábado, dia em que a jovem desapareceu.
Entretanto, a quebra de sigilo telefônico mostrou que a torre da operadora de celular utilizada por Hugleice apontou que no dia e horário citados, o cunhado estava em Sidrolândia, município onde o corpo da jovem foi encontrado e onde mora Jodimar.
Hugleice tinha muita influência na família da esposa porque sustentava as três mulheres: a mulher, a cunhada e a sogra.
Marielly estava grávida havia 4 meses, mas os parentes dela alegaram não saber quem era o pai. Ao fim do inquérito, o delegado afirmou que os dois poderiam ter evitado a morte da jovem. “Eles poderiam ter a levado para o hospital. Mas acreditando na possibilidade do crime ficar impune não a levaram”.
Depois de ser solto para responder ao processo em liberdade, Hugleice se mudou com a mulher e a sogra para o Mato Grosso. Mas voltou a cometer crimes.
Atualmente preso na Penitenciária Major Eldo de Sá Corrêa, em Rondonópolis, onde cumpre pena por homicídio tentado qualificado ocorrido em 2018 contra a esposa, Mayara Barbosa, irmã mais velha de Marielly. Ele foi condenado no dia 11 de novembro de 2020 a 12 anos e 3 meses de reclusão em regime inicial fechado.