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Interior

Para ex-chefe da Polícia Federal no Estado, Sisfron não passa de "engôdo"

Edgar Paulo Marcon, que chefiou Superintendência da PF em MS, diz que atuação pontual do Exército é improdutiva

Helio de Freitas, de Dourados | 21/12/2017 14:58
Edgar Marcon diz que se 10% do dinheiro gasto no Sisfron fosse destinado para a PF, situação seria outra (Foto: Arquivo)
Edgar Marcon diz que se 10% do dinheiro gasto no Sisfron fosse destinado para a PF, situação seria outra (Foto: Arquivo)

O delegado aposentado da Polícia Federal Edgar Paulo Marcon chamou de “engodo” o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras, o Sisfron, que desde 2012 já recebeu R$ 1 bilhão para a instalação do projeto-piloto na linha internacional entre Mato Grosso do Sul e Paraguai. Atual especialista em segurança e advogado, Marcon foi superintendente da PF em MS de 2011 a 2015.

“Se tivessem dado para a Polícia Federal 10% do que gastaram com esse engodo, a segurança na fronteira seria 100% melhor do que se apresenta”, afirmou Marcon. Segundo o Exército, cinco anos após o lançamento, 60% do projeto-piloto do Sisfron está implantado em 695 km da fronteira, de Mundo Novo a Caracol.

Ontem (20), o Campo Grande News publicou reportagem mostrando que policiais federais e estaduais reclamam da ineficiência do Sisfron, afirmando nunca terem recebido qualquer informação do sistema de monitoramento de fronteira. O Exército rebate e diz que os dados são compartilhados.

Ineficiente - “Segurança pública se faz com policiais nas ruas e inteligência, é o binômio prevenção e repressão. As Forças Armadas já demonstraram diversas vezes que não querem se envolver de forma permanente com o combate à criminalidade. Querem atuar de maneira ‘pontual’, e isto é improdutivo, totalmente ineficiente”, afirmou Edgar Marcon ao Campo Grande News.

Para o ex-chefe da PF, que fez carreira no combate ao crime organizado, o sistema de radares do Sisfron tem pouca eficiência. “Radares por si só não servem para muita coisa. Eles têm que estar operantes e à disposição permanente das forças policiais, que por sua vez, também, precisam de investimento para amplas condições de atuar. Não adianta ter a informação de que 50 aeronaves cruzaram a linha de fronteira, se o sistema não prevê a forma de interceptá-las”.

Soldado do Exército vigia a fronteira em helicóptero do Sisfron (Foto: Ademir Almeida/Defesa Net)
Soldado do Exército vigia a fronteira em helicóptero do Sisfron (Foto: Ademir Almeida/Defesa Net)

Chefes do crime – Marcon defende a elaboração de um plano específico para a fronteira, com verba carimbada, destinada a equipar o poder de repressão ao contrabando e ao narcotráfico, além de estruturar o serviço de inteligência da polícia.

“Os grandes traficantes e contrabandistas não residem na fronteira, mas sim, nos grandes centros onde devem ser combatidos via inteligência policial. Todavia, o produto de seus crimes é material e transportado por meio de aeronaves, barcos e veículos pelas fronteiras. Para isto, as forças policiais têm que estar presentes, também, de forma visível nestas regiões”, opina.

Além de mais dinheiro para a polícia, o especialista defende o intercâmbio de informações e de policiais com os países vizinhos. “Pode ser feito nos moldes da integração policial internacional existente na Polícia Federal, através de suas adidâncias”. Marcon foi adido da PF em Assunção nos últimos dois anos.

“Nesta região de fronteira seca deveria se buscar formas para constituir grupos de repressão binacional, com integrantes das polícias e do Ministério Público, escolhidos rigidamente, que tivessem autorização para atuar em ambos os lados da fronteira”, afirma.

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