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Interior

Policial que matou homem em cinema pediu para sargento esconder armas ilegais

Cabo Dijavan e o sargento Robson Gracioto foram denunciados pelo ato ocorrido em 2019

Helio de Freitas, de Dourados | 11/03/2021 11:36
Dijavan no momento do corpo de delito, em 8 de julho de 2019 (Foto: Reprodução)
Dijavan no momento do corpo de delito, em 8 de julho de 2019 (Foto: Reprodução)

O cabo da Polícia Militar Dijavan Batista dos Santos, 39, pediu ajuda ao amigo, o sargento da PM Robson Gracioto Rodrigues, para esconder armas e munições ilegais que mantinha em casa. O pedido foi feito no dia 8 de julho de 2019, logo após Dijavan matar com tiro na cabeça o bioquímico Julio Cesar Cerveira Filho, 43.

A morte, durante suposta briga por causa da poltrona ocupada por Julio, ocorreu dentro da sala de cinema do shopping de Dourados, cidade a 233 km de Campo Grande. De família de pioneiros, o bioquímico foi assassinado na frente da filha, de 16 anos. Em plenas férias escolares, a sala estava lotada de adolescentes.

Preso em flagrante pela PM em frente ao shopping, Dijavan foi levado para a sede da Polícia Militar Ambiental (onde era lotado) no Parque Arnulpho Fioravante, a cem metros do local o crime. De lá, após entrar em contato com o advogado, ele foi levado para a Polícia Civil.

Entretanto, antes de ser conduzido para a delegacia, Dijavan ligou para o sargento Robson Gracioto Rodrigues e pediu que ele comparecesse ao quartel da PMA. Robson atendeu ao pedido do amigo e quando chegou ao local, Dijavan solicitou que ele fosse até sua casa e recolhesse as armas e munições ilegais.

Temendo buscas da Polícia Civil em sua residência, Dijavan pediu que Robson guardasse com ele um revólver Smith & Wesson calibre 22, uma espingarda calibre 36 de marca desconhecida (ambos sem documentos), além de munições de origem estrangeira, também ilegais.

O sargento Robson manteve em seu poder as armas e as munições até Dijavan ser colocado em liberdade por força de habeas corpus, no dia 6 de agosto de 2019. Depois que foi solto, o cabo pegou o armamento de volta e guardou em casa.

Os detalhes do caso fazem parte da denúncia apresentada contra os dois policiais pela promotora Tathiana Correa Pereira da Silva, da 24ª Promotoria de Justiça em Campo Grande.

Segundo a denúncia à qual o Campo Grande News teve acesso, Dijavan é acusado de posse ilegal de armas e munições por infringir o Estatuto do Desarmamento. Robson responde por infringir o artigo 351 do Código Penal Militar (prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime).

A promotora Tathiana Correa Pereira da Silva denunciou os dois policiais douradenses com base no inquérito policial militar conduzido pelo tenente-coronel Flavio Katumi Nishikawa, da Corregedoria da PM de Mato Grosso do Sul.

Foi o tenente-coronel Flavio que flagrou as armas ilegais na casa de Dijavan durante mandado de busca e apreensão expedido pela Justiça Militar. No local foram encontrados o revólver, a espingarda, um silenciador e 33 munições de calibres variados, “sem autorização e em desacordo com a regulamentação legal”.

Em depoimento no inquérito militar, Dijavan alegou que as armas são herança de seu pai e as munições ganhou de amigos, mas confirmou não possuir documentação do armamento.

A morte – O processo em que o cabo Dijavan foi denunciado pelo assassinato do bioquímico está em andamento na Vara do Tribunal do Júri em Dourados. Réu por homicídio duplamente qualificado, o PM ficou menos de um mês preso e cumpre medidas cautelares impostas pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.

O Ministério Público recorreu ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) contra a liberdade, mas no dia 18 de dezembro de 2019 o ministro Nefi Cordeiro negou o recurso e manteve o policial em liberdade.

Neto do ex-prefeito José Cerveira, Julio Cesar Cerveira Filho foi morto com tiro na cabeça disparado por Dijavan com uma pistola calibre 40 sem registro. O crime ocorreu dentro da sala 1 do cinema do Shopping Avenida Center minutos antes de começar a exibição do filme Homem Aranha – Longe de Casa.

O promotor Luiz Eduardo Sant’Anna Pinheiro denunciou o policial por homicídio duplamente qualificado – praticado em local que possa resultar perigo comum (atirou e matou na sala de cinema, ocupada por dezenas de pessoas) e por recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima.

Dijavan também foi denunciado com base no artigo 12 do Estatuto do Desarmamento por portar arma ilegal. A pistola Smith & Wesson não pertencia à corporação e tinha sido, segundo o PM, presente de seu pai, já morto. Mesma alegação usada em relação às outras armas encontradas na casa dele.

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