Preso, ex-prefeito tenta responsabilizar assessores por desvio de 23 milhões
Maurílio Azambuja afirmou que dinheiro desviado era para pagamento de servidores de Maracaju
Após uma manhã inteira de depoimento, Maurílio Azambuja (MDB) negou envolvimento no esquema que desviou mais de R$ 23 milhões dos cofres públicos de Maracaju – cidade a 160 km de Campo Grande. Ao falar sobre a acusação do crime de corrupção, o ex-prefeito alegou que “deu autonomia” aos secretários e pensava que os cheques assinados por ele eram enviados para uma conta reserva, destinada ao pagamento dos funcionários.
Maurílio está preso temporariamente desde a noite de sexta-feira (24), após passar dois dias foragidos da polícia. Ele foi alvo da Operação Dark Money, que começou na quarta-feira, dia 22 de setembro, e levou outras sete pessoas para a cadeia por envolvimento no crime.
A investigação do Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado) apontou que a organização criminosa, composta por servidores da prefeitura municipal, retirava dinheiro dos cofres públicos aos poucos e enviava para uma conta paralela. A polícia identificou a transferência de 600 cheques com valor médio de R$ 38 mil.
O ex-prefeito prestou depoimento ontem e segundo apurado pelo Campo Grande News, falou durante toda a manhã. Ao contar sua versão, afirmou que sabia da existência da conta e chegou a assinar alguns cheques, mas acreditava que os valores seriam destinados a uma reserva financeira para pagar folha e fornecedores.
Afirmou ainda que deu autonomia a três funcionários para fazer pagamentos abaixo de R$ 100 mil, que confiava neles e, por isso, apenas conferia valores e assinava cheques sem questionar o destino. Eram eles o ex-secretário de Fazenda e Administração Lenilso Carvalho Antunes, a ex-diretora do Departamento de Tesouraria Diana Cristina Kuhn e o técnico em edificações e integrante da Comissão Permanente de Licitações do município, Edmilson Alves Fernandes.
Maurílio garantiu que não controlava a equipe, não cuidava a aplicação das verbas, sempre assegurou a liberdade dos assessores e só agora, com a operação policial, descobriu as irregularidades, mesmo sendo ele o responsável por abrir a conta paralela, que nunca foi informada aos órgãos oficiais.
A versão do ex-prefeito, no entanto, não convence a polícia. Não há qualquer comprovação de que a conta reserva era para a folha de pagamento dos funcionários, ao contrário disso, os cheques assinados não passavam por órgãos de controle interno e externo e foram emitidos para pagamento de empresas sem qualquer lastro jurídico e até agiotas.
Agora, a equipe de investigação segue em busca de novos envolvidos no esquema e também procura o ressarcimento do dinheiro desviado do município. Além disso, a polícia já requisitou a conversão da prisão temporária de Maurílio em preventiva, que não tem prazo definido, mas ainda não há decisão judicial.
Já estão presos preventivamente Lenilso Carvalho, Daiana Cristina, Edmilson Alvez e o empresário Pedro Everson Amaral Pinto. Outros três investigados foram colocados em liberdade com uso de tornozeleira eletrônica, sendo eles: Fernando Martinelli Sartori, Moisés Freitas Victor e Iasmin Cristaldo Cardoso.
Balanço – Na primeira fase da operação, 26 mandados de busca e apreensão foram cumpridos pela polícia e resultaram na apreensão de smartphones, computadores, documentos, dez veículos, um barco com carretinha, joias, discos rígidos e várias cédulas de cheque, que somaram R$ 109 mil. Também foram recolhidos R$143 mil em espécie, uma arma de fogo e munições de vários calibres. Diversas contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas também foram bloqueadas.