Preso no Brasil, Pavão fica impune de crimes praticados no Paraguai
Entre as denúncias contra narcotraficante extraditado na semana passada está suspeita de participação em cinco homicídios
Extraditado para o Brasil no dia 28 de dezembro e trancafiado no Presídio Federal de Mossoró (RN), o narcotraficante sul-mato-grossense Jarvis Gimenes Pavão escapou das acusações contra ele no Paraguai, onde ficou preso por oito anos, mas nunca deixou de comandar seu cartel de drogas.
Muitos dos crimes atribuídos ao traficante, segundo o jornal ABC Color, sequer foram investigados profundamente, por um motivo muito simples: o governo paraguaio queria se livrar de Jarvis Pavão a qualquer preço e se ele tivesse outra condenação naquele país, não poderia ser extraditado tão cedo.
Entre os atos criminosos que teriam o envolvimento direto de Pavão estão pelo menos cinco assassinatos, ocorridos na fronteira com Mato Grosso do Sul e na região de Assunção, onde ele estava preso até ser extraditado.
Rafaat – O mais conhecido desses assassinatos teve como vítima o ex-dono da fronteira, Jorge Rafaat Toumani. Na noite de 15 de junho de 2016, pelo menos 30 pistoleiros, usando uma metralhadora antiaérea calibre 50, atacaram o carro blindado do narcotraficante e seus seguranças no centro de Pedro Juan. Rafaat, ex-sócio de Pavão, foi crivado de balas.
O brasileiro Sérgio Lima dos Santos foi preso em um hospital na região metropolitana de Assunção acusado de participar do ataque e o governo paraguaio correu para acusar Pavão de ter ordenado a execução de Rafaat em parceria com o PC (Primeiro Comando da Capital) e o Comando Vermelho. Rafaat era contra a presença das facções criminosas brasileiras na fronteira.
Só que a denúncia contra Pavão não foi para frente. As investigações estão paradas e apenas Sérgio dos Santos continua preso como autor do crime. Jarvis Pavão sequer foi denunciado oficialmente.
Carcereiro eliminado – Outro crime atribuído a Pavão foi o assassinato de um agente penitenciário do presídio de Tacumbú, Mario Lescano Mereles, 48, e do filho dele, Mario Alberto Lezcano Villalba, ocorrido no dia 24 de agosto de 2016 em Lambaré, na região metropolitana da capital.
Na época do crime, a Polícia Nacional disse que Pavão teria ordenado a execução para se vingar de Mereles. Um mês antes, o agente penitenciário tinha descoberto o plano de fuga do criminoso brasileiro, que incluía explodir o muro de Tacumbú. Uma bomba foi encontrada próxima à muralha. Mas o caso “esfriou” e Pavão não foi denunciado.
Outro crime de grande repercussão foi o duplo homicídio que teve as irmãs Adriana Aguayo Báez, 28, e Fabiana Aguayo Báez, 23, ocorrido no dia 8 de junho de 2017 em Pedro Juan Caballero. Elas foram decapitadas e tiveram os corpos queimados em uma caminhonete. As cabeças estavam a 200 metros do local.
A macabra execução teria sido praticada por um célula do PCC, a mando de Pavão, para se vingar da morte do irmão, o comerciante Ronny Gimenes Pavão, ocorrida em Ponta Porã, em março do ano passado. Os brasileiros acusados pelas mortes foram presos e entregues à polícia brasileira para responderem por crimes no Brasil, sem serem julgados pelo duplo homicídio.