Sem-terra mantêm protesto e usina de Bumlai vai à Justiça para despejo
Polícia Militar mantém equipes no local para garantir segurança de funcionários após ameaça de que usina seria queimada
Pelo menos 200 trabalhadores rurais ligados ao MSTB (Movimento dos Sem-Terra do Brasil) continuam acampados no portão da Usina São Fernando, em Dourados, a 233 km de Campo Grande. O protesto começou na manhã desta segunda-feira (6) e não tem previsão de quando será encerrado.
Representantes da usina, que pertence aos filhos do empresário José Carlos Bumlai, já entraram com pedido de liminar na Justiça, para desobstruir o acesso à indústria.
A Polícia Militar mantém equipes no local depois que alguns manifestantes ameaçaram colocar fogo na indústria, localizada na MS-379, que liga Dourados a Laguna Carapã. Apesar da manifestação, todos os funcionários da usina tiveram acesso aos locais de trabalho.
O protesto em Dourados faz parte do “Carnaval Vermelho”, que acontece em 11 estados brasileiros. Organizado pela União Nacional Camponesa, o ato cobra do governo federal a reativação do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) e a retomada da reforma agrária no país.
Em Mato Grosso do Sul, conforme o líder do MSTB, Douglas Elias, o protesto cobra também o cumprimento da portaria 04, que determina a desapropriação de fazendas cujos donos tenham dívidas superiores a R$ 50 milhões com a União.
Os trabalhadores rurais querem a destinação da Fazenda São Marcos, vizinha da usina, para a reforma agrária. A fazenda pertence aos filhos de Bumlai e é usada para plantio de cana. A propriedade está ocupada desde o ano passado pelos mesmos trabalhadores sem-terra.
“A família Bumlai, que é dona da Usina São Fernando e da Fazenda São Marcos, deve pelo menos R$ 1,5 bilhão em empréstimos fraudulentos que o senhor José Carlos Bumlai fez e não pagou. Então, essa fazenda tem que ser destinada para a reforma agrária”, afirmou Douglas.
Segundo o líder do MSTB, desde 2010 não ocorrem novos assentamentos em Mato Grosso do Sul. “Queremos o cumprimento da portaria 04, que na verdade virou uma porcaria”, afirmou o líder sem-terra. A fazenda fica na margem da BR-463, na saída de Dourados para Ponta Porã.
Douglas Elias disse nesta tarde ao Campo Grande News que as famílias estão sem alimentos, mas dispostas a continuar em frente à usina até a chegada de representantes do governo federal para uma negociação. “Pedimos que a usina fornecesse marmitex, mas eles se recusaram”.
Assembleia - O juiz da 5ª Vara Cível de Dourados, Jonas Hass Silva Junior, marcou para quinta-feira (9) a assembleia geral de credores da São Fernando para tentar aprovar o plano de recuperação judicial. Caso não aconteça nessa data, a assembleia será adiada para 16 de março.
Essa é a terceira vez que a Justiça marca data para a assembleia, pois nas outras o próprio Tribunal de Justiça de MS suspendeu o ato, a pedido de um dos credores, o BNP Paribas.
Na assembleia, os controladores da São Fernando pretendem aprovar a constituição de uma unidade produtiva isolada (UPI) a ser leiloada judicialmente. Até o momento, apenas gestora americana de fundos Amerra fez uma nova proposta para comprar a Usina São Fernando.