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Interior

Sindicato Rural alertou PF sobre tensão com índios um mês antes do confronto

Entidade enviou ofício para Brasília, antes de conflito que deixou um morto e dez feridos em Amambai

Helio de Freitas, de Dourados | 29/06/2022 13:41
Índios avançam em direção à sede da Fazenda Borda da Mata, na segunda-feira (Foto: Helio de Freitas)
Índios avançam em direção à sede da Fazenda Borda da Mata, na segunda-feira (Foto: Helio de Freitas)

A Polícia Federal foi alertada com um mês de antecedência sobre a tensão entre índios e produtores rurais em municípios da fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai. O aviso foi feito pelo Sindicato Rural de Amambai em ofício enviado no dia 26 de maio.

Entretanto, o documento foi protocolado na Superintendência do Distrito Federal. Através da assessoria, a PF em Mato Grosso do Sul informou que não recebeu o ofício.

Na sexta-feira (24), policiais do Batalhão de Choque e indígenas entraram em confronto na Fazenda Borda da Mata, nos fundos da Aldeia Amambai. O guarani-kaiowá Vito Fernandes, 42, foi morto a tiros e pelo menos sete índios foram baleados. Três policiais também sofreram ferimentos leves.

No documento encaminhado à PF e ao qual o Campo Grande News teve acesso, o presidente do Sindicato Rural Rodrigo Ângelo Lorenzetti pediu envio urgente de agentes federais para a região de Amambai “a qual está na iminência de sofrer invasões de propriedades privadas por indígenas”.

O líder ruralista citou no documento ocupações ocorridas no município de Aral Moreira e da própria Borda da Mata, onde os índios tinham entrado no dia 23 de maio. Lorenzetti justificou que a presença dos policiais poderia evitar confrontos entre indígenas e produtores rurais.

Cópia do ofício enviado à PF em Brasília (Reprodução)
Cópia do ofício enviado à PF em Brasília (Reprodução)

Rodrigo Ângelo Lorenzetti disse hoje (29) que o ofício foi protocolado em Brasília porque um integrante do Sindicato Rural que estava na capital federal. Segundo ele, até agora não recebeu qualquer resposta da Polícia Federal ao pedido. O Campo Grande News ainda não conseguiu contato com a Superintendência da PF no DF.

A reportagem apurou que a Polícia Federal atende a requisições apenas do chefe do Executivo Federal, do Ministério Público e da Justiça Federal ou seja, o Sindicato Rural não tem competência legal para esse tipo de pedido.

Representantes do MPF conversam com índios acampados em fazenda em Amambai (Foto: Divulgação)
Representantes do MPF conversam com índios acampados em fazenda em Amambai (Foto: Divulgação)

Nabhan Garcia – O secretário especial de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura Nabhan Garcia também foi informado sobre o clima de tensão que já imperava na região de Amambai no final de maio.

Documento assinado por sindicatos rurais de 11 municípios sul-mato-grossenses, entre eles os de Amambai e Ponta Porã, informou a Nabhan Garcia sobre o conflito agrário causado por ocupações de terras por indígenas em maio deste ano.

“O Estado de Mato Grosso do Sul conta com 155 propriedades privadas invadidas, além de algumas centenas de imóveis impactados por processos de demarcação. Essa realidade impacta o setor produtivo, fragiliza a segurança jurídica, relativiza o direito de propriedade e compromete a arrecadação tributária federal e estadual”, afirmou trecho do documento, com data de 26 de maio de 2022.

Os ruralistas sul-mato-grossenses pediram a presença de Nabhan Garcia e de representantes do Ministério da Justiça e da Funai (Fundação Nacional do Índio) no encontro de produtores rurais, ocorrido de 28 a 30 do mês passado em Ponta Porã. Nabhan veio ao evento, mas a fala dele não foi divulgada.

Em vídeo enviado ontem a apoiadores em MS, Nabhan Garcia elogiou a atuação da segurança pública de Mato Grosso do Sul durante o conflito com indígenas.

“Eu quero aqui parabenizar os órgãos de segurança pública de Mato Grosso do Sul. Parabenizar o governo de Mato Grosso do Sul, porque restabeleceu a ordem, restabeleceu o estado democrático de direito. Podem contar com o Governo Federal”, afirmou.

A Fazenda Borda da Mata, onde ocorreu o confronto do dia 24, é uma das 10 propriedades do Grupo Torlim e sede da empresa VT Brasil Administração e Participação Ltda., que pertence a Waldir Cândido Torelli. Atualmente a empresa está no nome dos filhos de Waldir – Waldir Candido Torelli Junior, 35, Rodrigo Adolfi Torelli, 40, e Eduardo Adolfi Torelli, 33.

Expulsos pelos policiais do Choque na sexta-feira, os índios voltaram para a propriedade na tarde de segunda-feira (27) para enterrar o corpo de Vito Fernandes e permaneceram na área. Barracos estão sendo construídos ao lado da sepultura.

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