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Interior

Temendo outro ataque, índios correm com caixão nos braços em fazenda

Enquanto grupo abria cova para enterro e rezadores faziam ritual, helicóptero sobrevoou área; guarani-kaiowá se dizem cercados

Helio de Freitas, enviado a Caarapó | 16/06/2016 19:00
Índios carregam caixão com o corpo de Clodioudo após sobrevoo de helicóptero em fazenda (Foto: Helio de Freitas)
Índios carregam caixão com o corpo de Clodioudo após sobrevoo de helicóptero em fazenda (Foto: Helio de Freitas)
Como aeronave não pousou, eles voltaram para o barraco (Foto: Helio de Freitas)
Como aeronave não pousou, eles voltaram para o barraco (Foto: Helio de Freitas)

Suposto novo ataque de homens armados em outro ponto da reserva e o sobrevoo de um helicóptero sobre a sede da fazenda Yvu provocaram correria entre os cerca de 300 guarani-kaiowá que se reuniram na tarde desta quinta-feira (16) para o enterro do corpo do agente de saúde indígena Clodioudo Aguile Rodrigues dos Santos, 26, em Caarapó, município a 283 km de Campo Grande.

Temendo outra investida de produtores rurais e seguranças, como a que ocorreu na terça-feira de manhã e terminou com sete pessoas feridas e na morte do agente de saúde, alguns índios pegaram o caixão que estava sob um barraco, e saíram correndo em direção à aldeia Teyi Kuê, que fica a alguns metros da fazenda.

Após o velório, na quadra de esportes de uma das escolas da reserva indígena, o caixão foi levado em uma caminhonete da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) até o local do confronto, a fazenda Yvu, uma das quatro propriedades ocupadas pelos índios nos últimos quatro dias.

Enquanto um grupo de índios abria a cova para o sepultamento, no local onde eles afirmam que Clodioudo caiu ferido e a cerca de 200 metros da sede da fazenda, o caixão permaneceu sob um barraco de lona. Rezadores faziam o ritual fúnebre dos guarani-kaiowá e familiares choravam e protestavam ao lado do corpo.

Gritos e correria – Os índios não tinham feito a cova antes. Temiam que os produtores rurais voltassem durante a noite e retomassem a fazenda. Por isso preferiram esperar o caixão chegar à fazenda para abrir o buraco. Demorou quase uma hora e meia para o serviço ser concluído. Com pás e enxadas, os índios se revezavam no serviço.

Em determinado momento, simultaneamente ao sobrevoo do helicóptero não identificado, alguns índios chegaram ao local afirmando que em outro ponto da reserva estava havendo um novo ataque de seguranças armados.

“Mande a Força Nacional lá, estão atacando de novo”, disse uma professora indígena ao deputado federal Paulo Pimenta (PT/RS), que acompanhava a cerimônia fúnebre junto com os colegas Zeca do PT e Padre João (PT/MG).

Foi o suficiente para a correria. Dezenas de índios que estavam na sede saíram correndo em direção à aldeia. Amigos de Clodiodo pegaram o caixão e fizeram o mesmo, mas como o helicóptero não pousou, voltaram com o caixão para o barraco até que a cova ficasse pronta.

Tia de Clodioudo chora ao lado do caixão antes do enterro (Foto: Helio de Freitas)
Tia de Clodioudo chora ao lado do caixão antes do enterro (Foto: Helio de Freitas)
Bandeira do Brasil manchada de tinta vermelha é içada em barraco onde estava o caixão (Foto: Helio de Freitas)
Bandeira do Brasil manchada de tinta vermelha é içada em barraco onde estava o caixão (Foto: Helio de Freitas)

Zeca apressou enterro – Mesmo depois de toda a correria sobre o suposto ataque, a abertura da cova seguia devagar e os índios continuavam a rezar e dançar em frente ao caixão. O deputado Zeca do PT procurou o pai de Clodioudo, o capitão Leonardo, e pediu que a cerimônia fosse acelerada. “Temos horário para pegar o avião em Dourados”, afirmou.

O caixão foi levado para a cova, dezenas de índios cercaram o local e mais uma vez houve uma série de discursos – a segunda, já que todos, incluindo deputados e lideranças, já tinham se pronunciado na quadra da escola, durante o velório.

Outro documento direcionado aos deputados foi lido por uma liderança da aldeia e outros falaram em guarani. Fizeram novos protestos contra os fazendeiros e a polícia, pediram segurança e cobraram demarcações e reafirmaram a promessa de novas ocupações. “Vamos retomar todos os nossos tekohás de Dourados a Amambai”, afirmou um dos líderes.

Em seguida os deputados deixaram a área prometendo levar o drama dos gaurani-kaiowá para Brasília. Mas o clima continua tenso na região. Homens da Força Nacional de Segurança Pública começaram hoje a ocupar pontos estratégicos da reserva, para impedir novos confrontos.

Barracos começaram a ser montados na tarde de hoje na fazenda Novilho, nas margens da estrada de terra que liga Caarapó e Laguna Carapã e uma das propriedades ocupadas pelos índios após o confronto de terça-feira.

Caminhonete com o caixão chega ao portão de acesso à fazenda onde Clodioudo morreu (Foto: Helio de Freitas)
Caminhonete com o caixão chega ao portão de acesso à fazenda onde Clodioudo morreu (Foto: Helio de Freitas)
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