Traficantes recebiam celular no mesmo dia que entravam no presídio
A Operação Dublê, iniciada há oito meses pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) em Mato Grosso do Sul, São Paulo e Goiás para desmantelar uma quadrilha de traficantes de maconha, descobriu também uma grande facilidade em obter telefone celular e drogas dentro dos presídios desses três estados. Em alguns casos, os criminosos recebiam o celular no mesmo dia em que chegavam às penitenciárias.
Conversas por telefone interceptadas pelo Gaeco através de escutas autorizadas pela Justiça comprovam que os traficantes presos faziam contato com outros criminosos do bando assim que entravam nos presídios.
Dos 16 traficantes autuados ontem pelo Gaeco, nove já estavam recolhidos em unidades prisionais, de onde continuavam participando das ações da quadrilha especializada em transportar maconha em veículos de luxo.
Segundo os promotores de Justiça do Gaeco, os criminosos continuavam operando o esquema porque mantinham contato diário com os integrantes da quadrilha que estavam soltos, usando inclusive redes sociais como Facebook e Wasttsapp, que acessavam através de celulares.
De dentro dos presídios, os traficantes ajudavam os comparsas soltos a arregimentar “funcionários” para roubar os veículos de luxo e depois conduzir os carros recheados de maconha. Para facilitar a vida de seus integrantes presos, a quadrilha mantinha sociedade com o PCC (Primeiro Comando da Capital).
“Descobrimos uma grande facilidade de entrada de telefones celulares nos presídios. Quase imediatamente após as prisões vinha informação de que esses presos já estavam com telefone celular”, afirmou a promotora do Gaeco em Dourados, Cláudia Almirão.
O promotor Marcos Alex Vera de Oliveira, coordenador do Gaeco em Mato Grosso do Sul, informou que celulares e drogas foram encontrados em celas ocupadas pelos integrantes da quadrilha nos presídios de Dourados, de Campo Grande e de Guarulhos (SP). “Na cela ocupada por um dos traficantes no Instituto Penal da capital, além de celulares, havia uma quantidade de maconha bastante significativa”, afirmou.
Envolvidos – Os acusados que já se encontravam presos e contra os quais foram cumpridos novos mandados de prisão são Douglas Neves de Souza, Emerson José Neves de Lira, Franklin Almada Ajala Ferreira, Geanderson da Silva Banheza, Ailton Luiz Schweich, Murilo Toledo Pacheco, Kamila Gomes de Aguiar, Wesley Neves de Castro e Danilo Alves de Jesus da Silva.
Por força de mandado decretado pelo juiz Rubens Witzel Filho, da 1ª Vara Criminal de Dourados, foram presos ontem Maria Muniz da Silva, moradora em Goiânia e apontada como uma das chefes da quadrilha; Luciana Alvez Borges, Wagner Moreira da Silva, sobrinho de Maria, preso em Coronel Sapucaia; Jairo Rodrigo Censi Casari, preso em Dourados; Danilo Aparecido da Silva, preso em Barrinha (SP); Gival Batista de Souza e Srimati Radharani Gonçalves Paula Passos, 20 anos, que foi presa no estado de Goiás.
O Gaeco ainda tenta localizar Diego Peralta Carneiro, Felipe Néri Colman Lopes, Rosangela Almeida, Isabella Alves da Silva e outro chefe da quadrilha, Edinei Pedroso de Moraes, o “Cupim” ou “Neno”, de 32 anos.
Ex-agricultor familiar que morava em um assentamento rural no município de Nova Andradina, Edinei é procurado por três mandados de prisão decretados pela Justiça. Segundo o Gaeco, ele está escondido em território paraguaio, na região de Capitán Bado, onde mantém uma base de operação.
Moraes foi apontado pelo promotor Marcos Alex como extremamente violento e perigoso e que seria responsável em ordenar roubos, assassinatos e latrocínios para atingir seus objetivos. “É extremamente importante e urgente a prisão desse cidadão, que vem encomendando roubo desses veículos, principalmente caminhonetes”, disse o promotor. O Gaeco pediu ajuda da Interpol para tentar prender Edinei no Paraguai.
O esquema da quadrilha - Conforme o Gaeco, os carros de luxo roubados ou furtados ganhavam novos documentos em Goiás, chegavam a Mato Grosso do Sul, muitas vezes em caminhões cegonha, misturados a veículos legais, e depois seguiam para a fronteira, onde eram recheados com maconha, voltavam para Dourados e depois eram levados para São Paulo e cidades goianas.
A quadrilha usava batedores e “olheiros”, que ficavam em postos de combustíveis ao longo das estradas observando a movimentação da polícia e passavam informação aos condutores dos veículos.
Segundo o Gaeco, as investigações continuam, agora para tentar descobrir pessoas envolvidas com a lavagem de dinheiro. Existem indícios de que a quadrilha usava nomes de “laranjas” para movimentar contas bancárias.