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Cidades

Tempo seco, calor e fogo no mato: equação que torna os dias difíceis

Grande incêndio atingiu área do Chácara Cachoeira e alterou até mesmo rotina de hospitais.

Anahi Gurgel | 18/07/2018 17:45
Arminda e seu filho Davi, de 7 anos, no Parque das Nações Indígenas nesta tarde (17). (Foto: Fernando Antunes)
Arminda e seu filho Davi, de 7 anos, no Parque das Nações Indígenas nesta tarde (17). (Foto: Fernando Antunes)

Se já está difícil respirar com esse tempo seco e quente, imagina quando ateiam fogo no mato? Ainda estão bem fortes no ambiente a fumaça, a fuligem e o cheiro de queimada provocados pelo incêndio que atingiu uma extensa área do Bairro Cachoeira, em Campo Grande, na manhã desta quarta-feira (18), que levou hospital a até alterar a rotina para evitar piora na saúde dos pacientes. 

De forma geral, o incêndio prejudicou uma área localizada entre dois hospitais. De acordo com o gerente da Qualidade do Proncor, Clayton Robson de Oliveira, imediatamente foram tomadas providências para mitigar os impactos do incidente.

“Há ainda muita fuligem, em todos os setores. Pode-se dizer que a limpeza aumentou mais de cinco vezes em relação à da rotina. A todo momento funcionários passam panos, varrem, desinfetam”, conta.

Assim que o incêndio foi percebido, os funcionários, cerca de 300, e profissionais da área de saúde, receberam orientações para fechar portas e janelas, afastar veículos mais próximos do fogo, usar álcool gel a todo instante. 

“Agrava muito a situação. Além disso, o fogo fez com que muitos insetos viessem para cá. Até uma cotia apareceu. Estava queimada, coitada. Deu a impressão de que estava tentando salvar filhote”, disse.

Marli e a nora, Josânia, na recepção do Proncor, nesta tarde. O marido está internado na UTI há 10 dias, tratando uma pneumonia. (Foto: Fernando Antunes)
Marli e a nora, Josânia, na recepção do Proncor, nesta tarde. O marido está internado na UTI há 10 dias, tratando uma pneumonia. (Foto: Fernando Antunes)

Na espera - Na recepção da unidade, a empresária Josânia Prado Televe, 36, aguarda o horário de visitas para ver o esposo, que está internado há dez dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para se curar de uma pneumonia.

“O fogo começou de repente e a fumaça invadiu todo o hospital, até mesmo a UTI. Entrei no horário de visitas e o cheiro estava muito forte”, relata.

A família é de Coxim mas, devido à gravidade da doença do marido, pecuarista de 41 anos, ele foi transferido para a Capital. Ele segue em coma induzido.

"Esse tempo está terrível. Começou com minha filha ruim, depois eu tive pneumonia e agora meu marido. Piora muito com as queimadas, fica muito ruim para respirar”, diz.

Ao lado dela, a sogra, Marli Ferreira, de 66 anos, também acompanha o tratamento do filho. “A garganta fica toda irritada, os olhos secos. Essa fumaça torna tudo mais difícil”, reclama.

Josânia gravou um vídeo do momento do incêndio, como você pode conferir abaixo.

O gerente Clayton acredita que serão necessários, no mínimo, sete dias para que seja feita limpeza completa no hospital.

“Gera preocupação. Pacientes de ventilação mecânica não sofrem tanto, mas os que respiram espontaneamente, sim. O maior problema são as partículas que ficam no ar, com poeira, fuligem, que se propagam rapidamente”, explica a enfermeira Andrea Ferreira, coordenadora de Enfermagem do hospital.

“O tempo seco já deixa a saúde mais frágil, com a poluição fica ainda pior, podendo provocar problemas como bronquites, rinite, alergias, pneumonia. A atenção deve ser redobrada com crianças e idosos”, alerta.

João Batista Amoeda, aposentado de 62 anos, veio de São Paulo com a esposa visitar o filho, que mora distante 1 quarteirão da área do incêndio.

“Sentimos o cheiro forte de fumaça e já fechamos portas e janelas. Até agora de tarde está difícil de respirar, a garganta arde. O pior é saber que é falta de consciência que provoca essas queimadas”, acredita.

Área ficou destruída após incêndio no Chácara Cachoeira. (Foto: Fernando Antunes)
Área ficou destruída após incêndio no Chácara Cachoeira. (Foto: Fernando Antunes)

Já a professora Arminda de Souza Garcia, 40, resolveu levar seus filhos e um sobrinho, com idade entre 7 e 12 anos, para passear na região. "Aumenta o cansaço, a pele fica seca, os lábios. Eu vim mesmo porque eles queriam brincar, mas trouxemos muita água", ressalta.

Na Capital, a média tem sido de 13 chamadas atendidas pelo Corpo de Bombeiros diariamente. No Estado, são 23 ocorrências por dia para combater fogo em terreno baldio. De janeiro até o dia 17 de julho, foram 2.201 incêndios no estado, sendo 1.119 em Campo Grande.

A prática é criminosa, como prevê o artigo 250 do Código Penal. Denúncias podem ser feitas pelo 190. 

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