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Vidas frágeis: UTI neonatal em duas cidades faz nascimento virar drama

Aline dos Santos e Aliny Mary Dias | 09/08/2014 10:00
Vidas frágeis: UTI neonatal em duas cidades faz nascimento virar drama
Quantidade de UTI neonatal na Capital é insuficiente, ainda mais com vinda de pacientes do interior (Foto: Marcos Ermínio)
Quantidade de UTI neonatal na Capital é insuficiente, ainda mais com vinda de pacientes do interior (Foto: Marcos Ermínio)

Com menos de um quilo e meio e graves problemas respiratórios, a vida dos bebês prematuros corre risco de ser curta e, marcada desde cedo, pelos percalços do SUS (Sistema Único de Saúde).

“Se chegar aqui ordem judicial, levo para o juiz a lista dos recém-nascidos e ele dá alta”, afirma o coordenador do Samu (Serviço Atendimento Móvel de Urgência), Eduardo Cury. Em Campo Grande, o serviço é responsável pela regulação das vagas.

Segundo ele, essa realidade resulta de oferta escassa de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal. “Lamentavelmente, são dez leitos em Dourados e o restante em Campo Grande”, explica Cury.

Na Santa Casa da Capital, unidade referência para gestações e recém-nascidos de alto risco são oito leitos de UTI neonatal e outros 11 leitos na unidade intermediária, local para onde são encaminhados os bebês que recebem alta da UTI. No setor, os pequenos podem permanecer por dias ou meses, tudo depende do desenvolvimento da criança.

O chefe do serviço da Unidade Intermediária, o médico pediatra José Mendes de Carvalho, explica que a quantidade de leitos é insuficiente, ainda mais porque mães e bebês de todo o Estado são transferidas para a Santa Casa.

Gislaine saiu de Maracaju, onde teve complicações no parto, e veio para a Santa Casa (Foto: Marcos Ermínio)
Gislaine saiu de Maracaju, onde teve complicações no parto, e veio para a Santa Casa (Foto: Marcos Ermínio)

“Há 12 anos tínhamos 12 leitos na UTI e hoje são 10. O que falta é um plano diretor por parte do gestor para que as ações sejam feitas com planejamento. Precisa investir, não adianta ficar apagando fogo e não pensar no futuro”, diz o médico.

Quem precisou enfrentar a estrada após dar a luz e há 11 dias enfrenta a rotina de uma UTI neonatal é a dona de casa Gislaine Arce, 29 anos. Com uma gravidez sem problemas, ela, que vive em Maracaju, precisou ser transferida para a Capital em razões de complicações no parto.

O pequeno Diogo passou alguns dias na UTI neonatal e deve permanecer por mais alguns na unidade intermediária até que receba alta do hospital. “Eu precisei vir para cá porque meu filho teve problemas depois de nascer, estou aqui esperando ter alta e a distância é complicada”, diz.

De acordo com o presidente do CRM (Conselho Regional de Medicina), o pediatra Alberto Cubel Brull Júnior, Corumbá e Três Lagoas, cidades referência para macrorregiões, nunca tiveram leitos de UTI neonatal para os prematuros.

“Na verdade, falta vontade política. Manter a UTI neonatal é possível. O SUS paga valores que valem a pena, são interessantes, mas não saem. Nasce prematuro em Três Lagoas e vai para Campo Grande. De Corumbá, vai para Dourados”, salienta.

Investimento no setor é essencial para melhoria nas condições de tratamento dos bebês (Foto: Marcos Ermínio)
Investimento no setor é essencial para melhoria nas condições de tratamento dos bebês (Foto: Marcos Ermínio)

Segundo o CRM, são dez leitos de UTI neonatal no HU (Hospital Universitário) de Dourados. Na Capital, são dez leitos no HR (Hospital Regional) Rosa Pedrossian, dez na Maternidade Cândido Mariano e oito na Santa Casa. “No Hospital Universitário, acho que são seis, quando tem. Sempre tem dificuldade lá”, enfatiza Alberto Cubel.

No HU de Campo Grande, o setor passa por reforma, com redução de nove para seis leitos. Na rede particular, são dez leitos de UTI neonatal em Campo Grande.

Em abril do ano passado, gêmeos prematuros, nascidos em Maracaju, morreram à espera de vaga. Na ocasião, a primeira tentativa de transferência foi frustrada por falta de leito. Na segunda vez, o pedido foi acatado, mas os meninos morreram no trajeto. Um pesava 1,5 quilo e o outro 1,6 quilo. Eles nasceram na noite de 23 de abril e morreram na manhã do dia seguinte

O pediatra também explica que a frágil vida dos bebês precisa de um transporte com zelo extremado “O transporte é muito complicado. Tem que ter respirador, manter a temperatura. Pode morrer só por falta de calor. E sem o transporte adequado, pode ficar com sequelas graves”, afirma.

Os problemas podem ser de ordem motora ou neurológica, diante da dificuldade para respirar. Mas o desfecho também pode ser feliz. Quem conta é o próprio pediatra, que viveu em família a situação de um parto prematuro. “Minha sobrinha nasceu com 1,4 quilos, foi direto para a UTI na Cândido Mariano. Recebeu todos os cuidados e está ótima”, diz Alberto Cubel.

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