A barreira da densidade populacional contra o vírus
Há duas semanas e meia o povo voltou às ruas de Campo Grande. Aterrorizou muitos. Gáudio para outros. No início da pandemia, essa era uma atitude considerada tresloucada. Um genocídio. Conforme os especialistas, com o povo nas ruas, nos aguardava, em no máximo 14 dias, as macabras filas de caixões que ora vemos em Manaus, São Paulo e Rio de Janeiro. A contagem do tempo nos revelou uma elevadíssima quantidade de leitos desocupados, preparados para receber doentes pelo covid-19. Pelo menos até o momento, os prognósticos dos especialistas - felizmente - foram equivocados. É cedo para afirmar que não viveremos o terror viral? Indubitavelmente é muito cedo, mas ganhamos tempo.
Pouca gente em muita terra.
Desde o momento que Campo Grande fez-se capital, alguns intelectuais universitários tentaram construir a falsa ideia de que tínhamos de "encher de gente nosso território". A cidade seria extremamente despovoada. Bairros distantes - o símbolo era construção das Moreninhas - do centro seria um estorvo para o desenvolvimento. Logo a seguir, com o crescimento populacional, essa ideia original vestiu outra máscara - ainda tínhamos muitos bolsões de terra desocupados. Mas mantinha a essência, eles continuavam a bradar pela ocupação de terras. Hoje, Campo Grande tem, aproximadamente, 97 habitantes por quilômetro quadrado. Comparem com Manaus. Por lá, há 191 habitantes por quilômetro quadrado. A cidade de São Paulo é aterrorizante por essa variável, tem 7.400 habitantes por quilômetro quadrado.
Poucos prédios e desfavelização.
A verdade viral é que a história da densidade populacional de Campo Grande nos protegeu. Vivemos em uma cidade espaçada, somos "caipiras" que não adoram prédios. Não suportamos viver trancafiados em elevadores.
Também promovemos a desfavelização, uma dura batalha contra o esquerdismo caviar. Nossos bairros periféricos são constituídos por casas com algum terreno - ainda que pequeno - para distanciar do vizinho.
O vírus encontrou uma formidável barreira em nossa capital : a densidade populacional. A afirmação é extremamente fácil de entender: onde não há gente, não há proliferação de covid-19. Também é verdade que onde há poucas pessoas, o vírus tem muita dificuldade de encontrar célula humana para "fazer filhotes". Dissemina com dificuldade.
Rompendo a barreira. O suicídio por desespero e contágio.
No inicio, as filas com 100 pessoas. Passaram a 200. Depois, com 300. Intermináveis. O país da eterna bagunça entrou na fase suicida. Todos procurando pela tardia, burocrática e desalmada procura pelos seiscentão, pelo salário-desemprego... e, não nos esqueçamos, pelo ovo de Páscoa. Sol, suor e gotícula da peste sendo espargidas na pessoa da frente. Há explicação para o suicídio coletivo? Os governantes são os únicos responsáveis? O suicídio coletivo sempre é formado por múltiplos fatores. Um deles se sobressai: a liderança. Não há suicídio coletivo sem um ou mais líderes que conduzam o povo ao abismo. Via de regra, as religiões ou seitas também cumprem papel determinante, ao eliminar a vontade de viver o presente na Terra e, ao mesmo tempo, desejar por um paraíso futuro. A mídia também cumpre papel fundamental no suicídio coletivo. Imprensa, Facebook e WhatsApp concorrem para amplificar as mazelas atuais e incitar coragem aos suicidas potenciais. País da bagunça, cruel país do suicídio.
Quando veremos nossos amigos?
Dois meses sem ver os amigos. Sem ir ao bar. Familiares pela internet. A vida social entrou na fase "cárcere". Do isolamento ao cárcere. O sentimento pela liberdade aflora. A psicologia ainda estuda se há diferença entre isolar e encarcerar. Não sabemos mas sentimos. O desejo de ir à rua é um aguilhão no cérebro. Machuca. Insiste.
Estamos perdidos no vendaval das mentiras e esperanças. Não sabemos distinguir a crueldade. Não há plano de saída do confinamento-cárcere. Só há plano de vendas. Marcam as datas para vender o pepino tão almejado, mas nada sabemos sobre medicamentos eficazes. A respeitável ciência não nos dá respostas. Quando? Quando os respeitadores e responsáveis prisioneiros do vírus terão as grades do desespero cerradas. Remdesivir, o medicamento mais esperado pelos cientistas, entrou em colapso de informação. Três resultados conflitantes o impedem de nos guiar para a liberdade.