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Em Pauta

A caça ao biquíni insubmisso e a dúvida do bispo

Mário Sérgio Lorenzetto | 23/07/2018 08:22
A caça ao biquíni insubmisso e a dúvida do bispo

A história do biquíni está marcada pela perseguição desde sua aparição nos anos quarenta. Tudo que é perseguido pode provocar duas reações: que caia no esquecimento ou, se for suficientemente potente, terá sua popularidade multiplicada por dez. No caso do biquíni, efetivamente, ocorreu a segunda reação. No princípio não era considerado elegante, mesmo por seus adeptos. Mas, exatamente pela arrogância de seus opositores, tornou-se uma peça do vestuário que chamou a atenção da juventude. E, rapidamente, desencadeou uma onda. Desde seu início o biquíni foi insubmisso.
O medo do biquíni, igual ao que ocorreu com a mini-saia, radica em seu valor. Muito além de seu valor estético, quem colocava essa peça proclamava seu direito de exibição do próprio corpo. A mulher deixava a luta por seus direitos nas ruas e ia batalhar nas praias. Elas eram independentes, livres e se vestiam como lhes dava a vontade. Na moral da época criou um imenso estupor. Pais, juízes, padres e todos os demais proclamadores da moral e dos bons costumes lutaram pela sua proibição.

A caça ao biquíni insubmisso e a dúvida do bispo

Dois desenhistas para as duas peças.

A revolução sexual iniciada por essa vestimenta de duas peças é devida a dois desenhistas. Dois pioneiros, Jacques Heim e Louis Réard, que tentaram colocar na moda a menor peça de vestuário para banho que se podia imaginar, em uma época onde o pudor na praia imperava. Os dois chegam praticamente a mesma invenção, ao mesmo tempo, mas o mundo da moda preferiu atribuir a criação a Jacques Heim porque era um pouco mais famoso. Em 1946, Heim chamou essa veste de "átomo", inspirado no que significava a mínima expressão. Um mês depois de seu lançamento, ocorreu a explosão da bomba nuclear dos EUA no Atol de Bikini. Heim aproveitou as manchetes dos jornais com esse evento e, rapidamente, mudou o nome de sua co-produção.
Louis Réard também se inspirou nas provas nucleares de Bikini para apresentar seu traje de duas peças. Esse engenheiro, metido a desenhista, depois de herdar a loja de lingerie de sua mãe, organizou um desfile em 05 de julho de 1946 para apresentar essa roupa. Como nenhuma modelo se atreveu a usar sua criação, contratou Michelini Bernadini, uma bailarina de strip-tease do Cassino de Paris. A outra teoria é de que Michelini é quem inventou o nome das duas peças quando comentou com seu criador: "Será mais explosivo que a bomba de Bikini".

A caça ao biquíni insubmisso e a dúvida do bispo
A caça ao biquíni insubmisso e a dúvida do bispo

A dúvida do bispo.

O biquíni marcou uma enorme ruptura. A liberação do corpo feminino e a nudez nunca mais voltariam ao antigo pudor. Inicialmente proibido em vários países, inclusive na França, só foi conseguir alguma liberação graças às artistas Brigitte Bardot e Úrsula Andress, como a uma decisão de um ditador que se fez histórica. Enquanto as duas atrizes desfilavam seus umbigos (esse era o grande temor) em "Deus Criou a Mulher" e em "James Bond", o prefeito de uma pequena cidade litorânea espanhola foi ao ditador Franco debater a liberação do biquíni. É a história da vitória dos valores econômicos por cima dos morais. Empenhado em converter Benidorm, município de Alicante, Pedro Zaragoza, o prefeito, pegou sua vespa e foi a Madrid. Logo, estava sentado no Palácio do Pardo.Iria pedir ao ditador Francisco Franco a legalização do biquíni. O turismo da nudez supunha uma ameaça à ditadura, mas encheria os cofres com os impostos. Franco aprovou a ideia. Seis meses depois, sua esposa, Carmen Polo, estava em uma praia usando biquíni.
Quando retornou vitorioso a Benidorm, tocou o telefone de sua sala. Do outro lado estava o bispo, queria alertar que havia uma moça usando duas peças na praia e isso era um atentado à moral. Pedro lhe contestou: "Querido bispo, isso têm fácil solução, diga-me qual das duas peças o senhor deseja que eu tire?" A história correu o mundo e o biquíni derrubou todas as muralhas.
Dois anos depois, a modelo alemã Miriam Etz, traria o biquíni para as praias do Rio de Janeiro.

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