A importação eterna de equip. hospitalares e medicamentos
Faltam equipamentos nos hospitais brasileiros. Faltam medicamentos. Metade dos médicos e enfermeiras ouvidos em uma pesquisa relata a falta ou reutilização de máscaras protetoras. Muitos funcionários de hospitais estão contraindo o vírus. Em relação aos testes, o governo federal prometeu mais de 46 milhões. Agora afirma que não sabe quantos testes existem no país. A corrida por respiradores esteve próxima de virar um vale-tudo. A pandemia foi agravada, sem a menor sombra de dúvida, pela dependência do país em equipamentos, produtos farmacêuticos e insumos.
Vendiam 10, agora precisam de 10 mil.
A realidade pré-epidemia era de uma diminuta indústria brasileira de equipamentos hospitalares. Em média, vendiam 10 equipamentos por dia, o país passou a necessitar de 10 mil. Estamos despreparados (como sempre). Tenha a predileção política que for, não há como fugir dessa realidade.
A lei de patentes fechou as fábricas brasileiras de medicamentos.
Há duas indústrias farmacêuticas agindo no país, uma das multinacionais que importam seus produtos e outra brasileira. E isso é relativamente recente. Para que o Brasil entrasse na Organização Mundial do Comércio (OMC), tivemos que passar a respeitar, em 1996, a lei de patentes. À partir dessa data, as portas da indústria brasileira de medicamentos foram fechadas. Só começaram a reabrir em 2000 com a produção dos genéricos. Todavia, os medicamentos mais complexos continuam vindo da China ou da Índia, os polos mundiais desses produtos. A indústria de genéricos viveu muito bem até o final do ano passado. Com a alta absurda do dólar - para alegria dos banqueiros - a indústria dos genéricos definhou.
Importamos 90% dos insumos de medicamentos.
É importante entender que um medicamento é feito de uma substância que denominamos "princípio ativo". Há outro que é chamado de "incipiente", que envolve o princípio ativo. E ainda há um terceiro, denominado "invólucro". O Brasil tem de importar em torno de 90% desses produtos. Importa da Índia e da China. A Índia fechou suas portas para vender esses produtos. A China também fechou e só reabriu recentemente. Faltou medicamento no mundo. E com o dólar a mais de cinco reais, a situação se agravou.
Essa é uma das mais importantes lições que deveríamos aprender.
Até quando seremos dependentes de importações de equipamentos e medicamentos hospitalares? Não ouvimos uma só palavra de qualquer governante, a esse respeito. A resposta óbvia é que continuaremos a comprar no desespero, a pior compra que existe de qualquer produto. Só há uma saída pertinente: a injeção bilionária de recursos do BNDES nas fábricas brasileiras. Não é crível. Não ocorrerá. Este é um país nascido na bagunça e no desespero dos portugueses. Também da conversa fiada, das promessas que não se cumprem. Mais de quatrocentos anos depois, os princípios - bagunça e desespero - continuam nos comandando.