A monarquia caiu de madura. Pedro Banana
O príncipe regente, D.João, determinou que toda a família real, ministros e empregados, totalizando 15,7 mil pessoas, algo como 2% da população portuguesa, fugissem para o Brasil, sua principal e mais lucrativa colônia. Não enfrentariam as tropas de Napoleão e nem se renderiam. Apenas fugiriam. Uma atitude impensável para qualquer povo e nação em toda a história humana. Esse modelo de não enfrentar adversidades nos seria legado ao longo da história brasileira. Quando essa comitiva de fugitivos, e seus descendentes, tiveram de enfrentar os holandeses no nordeste, tomaram a mesma atitude, pagaram uma imensa fortuna, aproximadamente R$3 bilhões, para que eles retornassem à Holanda. Só enfrentavam "tropas" de miseráveis, como em Cabanos. Modelo posto, modelo copiado ad nauseam. Foram necessárias 8 naus, 3 fragatas, 3 brigues e duas escunas para transportar tanta gente. A viagem durou 54 dias até Salvador, na Bahia.
O legado da desimportância dos estudos.
A primeira universidade na América do Sul foi criada em 1538, em S.Domingo. À seguir, em 1551, viriam as universidades de Lima, no Peru e a do México. Esta, substituía uma longa tradição de estudos de um centro criado pelos astecas, denominado "calcemecac". O rápido começo é explicado pelo fato de que os espanhóis encontraram civilizações complexas, dotadas de avançadas estruturas econômicas, militares e de saber. Travaram uma prolongada batalha cultural com esses povos. Em contraste, a monarquia portuguesa optou por uma administração que não permitia a criação de universidades no Brasil. Todas as tentativas dos colonizados resultaram em fracasso. Levamos aproximadamente 400 anos para ter nossos primeiros centros de ensino. Só no final do século XIX passamos a contar com escolas profissionais, apesar da chegada corte em Salvador ter nos legado um centro de estudos de medicina. Novamente: um modelo de dominação escandaloso, mesmo para um tempo onde os estudos não eram tão significativos para a maioria do povo. O modelo é claro: não é preciso estudar para vencer. Vige até nossos dias.
Não entender as mudanças que bate aos portões dos poderosos.
A partir dos meados do século XIX, o Brasil passou por importantes transformações. O café se consolidou como principal produto de exportação e recuperou a economia que vivia uma das mais longas e perversas recessão. A entrada de levas de imigrantes contribuiu para o crescimento da mão-de-obra livre, ampliando o mercado consumidor. Os efeitos dessa modernização, desestabilizaram de vez a monarquia que sempre andou de bengala no Brasil. Esse é o modelo da cegueira dos poderosos no Brasil. Poderoso no Brasil, deveria comprar lentes de longo alcance.
Um governo enrijecido e profundamente racista.
A partir de 1870, ano em que terminou a Guerra do Paraguai, ficaram evidentes as deficiências das estruturas políticas. O reinado de Pedro II não conseguia acompanhar tantas mudanças sociais e econômicas. Caxias, o verdadeiro herói da guerra, retorna ao Brasil declarando que o exército não perseguirá escravos que fujam de suas prisões. Era o fim, na prática, dessa exploração covarde e idiota. Também era um governo enrijecido, incapaz de atender aos interesses dos cafeicultores e da ascendente camada média urbana.
Muitas revoltas clamando pela república.
Muito antes do 15 de novembro de 1889, ocorreram revoltas que defendiam a implantação do regime republicano. Inconfidência mineira, Revolta dos alfaiates, Revolução dos Padres, Confederação do Equador, Revolução Farroupilha, Revolta Sabinada e Revolta Praieira.
O mais destacado partido republicano brasileiro foi fundado na Convenção de Itu, em 1873, uma articulação dos cafeicultores - 79 de seus 133 criadores eram cafeicultores. Nos bastidores, agiam diuturnamente os maçons, outra força emergente na articulação republicana.
Um dos argumentos em prol da República era de caráter cartográfico. A monarquia parasitária que se instalara no Brasil era apontada como uma anomalia em uma América do Sul onde só existiam regimes republicanos há muito tempo.
O monarca estava mais interessado no carinho de suas "amigas".
Desde o início da década de 1880, D.Pedro II demonstrou certo alheamento pelos problemas nacionais. Diziam que ele estaria mais interessado no carinho de suas "amigas". Também estaria ocupado com aulas de idiomas e ciências. E nunca tinha tempo para assuntos políticos. Alguns jornais zombavam, atribuindo-lhe alcunhas como "Pedro Banana", uma marionete controlada por políticos inescrupulosos. Cochilava frequentemente nas reuniões. Estava perdendo a lucidez.
Sucessores inaceitáveis.
O Império tinha como sucessores a beata princesa Isabel, ligada ao setor mais conservador do clero. A união entre império e igreja era atacada como sendo algo típico das monarquias absolutistas, de sociedades atrasadas. A República, que se pretendia moderna e liberal, só poderia ser essencialmente leiga. Esse era o primado conduzido pelos maçons que logo chegariam ao poder com Deodoro da Fonseca. A princesa era tida como uma mulher despreparada para a missão de comandar o país. Não bastasse, era casada com o conde, neto do rei da França, deposto pela revolução de 1848. Devido ao forte sotaque que sempre arrastou, era estigmatizado como um intruso francês.
A queda dessa sempre rançosa monarquia foi facilitada pela existência de movimentos que atuaram de forma concomitante e interligados. A campanha republicana. A disputa entre civis defensores do império contra os militares defensores da república, o conflito entre a igreja e a maçonaria e, por ultimo, mas não menos importante: o abolicionismo. Juntos, determinaram a queda de uma monarquia de bananas, que caiu de madura.