A primeira estrela de cinema que inventou peças de carro
Florence Lawrence não inventou o cinema, mas sua figura foi capital para dotá-lo dessa aura que o converteu em uma indústria bilionária. Foi a primeira estrela desse sistema que tritura mulheres como se fosse um buraco negro. Em seu primeiro filme, esteve a ponto de morrer congelada e ainda tinha entre suas tarefas costurar e pintar os cenários dos filmes. Sua capacidade para as sequências físicas fez com que fosse procurada por todos diretores. Florence era aguerrida e tinha uma veia cômica.
Mulher não podia receber um salário maior.
Quando trabalhava em dezenas de filmes na Biograph, nos anos dez do século passado, a maior das empresas cinematográficas, Florence cobrou um aumento de seu salário e sua própria mesa para maquiar-se. Foi despedida. Mulher não podia reivindicar melhoria salarial. Foi quando apareceu Carl Laemmie, o homem que mudaria os rumos do cinema com a criação da Universal Pictures - e muitos anos depois, deixaria as filmagens para dedicar-se ao salvamento de crianças judias perseguidas pelos nazistas. Mas essa é outra história que ainda não foi contada.
O primeiro truque publicitário que ainda é copiado.
Laemmie tirou da manga o primeiro truque publicitário envolvendo uma pessoa. Um truque para tornar essa pessoa um ídolo. Sem ética, como ainda continua sendo, inventou que Florence estava morta. Teria sido atropelada. A notícia ocupou as manchetes de todos os jornais. Após algum tempo, Laemmie fez um show para "ressuscitar" Florence. Noticiou que ela talvez não estava morta e que tudo não passava de mentiras criadas pela empresa concorrente. E, em seguida, fez Florence aparecer descendo de um trem. Para sua chegada, milhares de pessoas haviam acudido à "ressurreição" de Florence. Todos queriam nela tocar. Chegaram a arrancar os botões de sua roupa. Era o primeiro ato de loucura dos fãs que seria copiado eternamente.
A invenção do primeiro sinalizador de automóveis.
Florence já era dona de uma fortuna. Laemmie havia quebrado a proibição de não aumentar os salários de uma mulher. Florence comprou uma casa e dedicou parte importante de seu dinheiro para uma grande paixão: os automóveis. Nos anos dez era curioso ver qualquer pessoa dirigindo os raros carros existentes, muito mais curioso era ver uma mulher ao volante. Mas a atriz não se conformava em apenas dirigi-los, queria aperfeiçoá-los. Os carros primitivos se moviam erraticamente pelas cidades. Passavam da esquerda para a direita e vice versa de acordo com à vontade dos condutores. Os acidentes eram constantes.
Além do sinalizador de lado de direção, outro para frear.
Para resolver o problema, Florence idealizou uma maneira de avisar os demais carros para onde dirigiria o seu, inventou acessórios móveis que depois de apertar botões, indicava para onde iria o condutor. Estava criado o antecedente das luzes de direção, os sinalizadores dos automóveis. Não parou aí. Tempos depois, criou um cartaz escrito com a palavra "STOP" que aparecia na traseira do carro quando ela frenava.
Espelho retrovisor e limpador de pára-brisas são das mulheres.
Florence não foi caso único. Pouco tempo antes, Dorothy Levitt, a primeira piloto de corrida, já havia inventado o espelho retrovisor na Inglaterra. Queria saber a distância de seus rivais. A história dos automóveis está cheia de mulheres. Todas esquecidas. Nenhuma delas recebeu a patente de seus inventos. A própria mãe de Florence Lawrence inventou o limpador de para-brisas. Esse primitivo acessório, permitia que o vidro fosse limpado por dentro e por fora. As duas Lawrence tinham um grande talento, mas a indústria dos automóveis não permitia que mulheres inventassem o que fosse.
A história das lutas femininas, repito, não começou nas reivindicações nas fábricas e nem nos partidos políticos. Primeiro, romperam as barreiras para que se tornassem donas de seus corpos. Depois, inventaram. Inventaram muito do que hoje temos e usamos para nosso conforto.