Assim que uma moeda no cofre cai, uma alma do purgatório sai
Há mais de quinhentos anos, um jovem monge alemão enviou para seu bispo um texto contendo uma série de 95 curtas teses, de uma ou duas linhas cada tese, escritas em latim. A sua intenção seria “pregar”, atiçar o debate, com a voz, em sermões, em publico. Mas, reza a lenda, que essas 95 teses tenham sido “pregadas”, com prego e martelo, na porta da igreja de Todos os Santos, na cidade de Wittenberg, na Alemanha, em 31 de outubro de 1.517, que é a data convencional para o inicio da Reforma Protestante.
Sem imprensa, ninguém perceberia.
Algumas décadas antes, aquele gesto teria passado desapercebido. Mas no tempo de Martinho Lutero, esse o nome daquele jovem monge, a imprensa tinha mudado a paisagem da Europa. A tipografia, inventada por chineses e coreanos, que deu fama a Johannes Gutenberg na Europa, tinha demorado algum tempo para ser disseminada. Os livros da época de Lutero tinham o nome de “incunábulos”. Faziam parte do “berço” ou “cuna” dos livros impressos. Pouco tempo depois que Lutero escreveu suas teses, haviam centenas de cópias circulando pela Europa. Umas décadas antes, para que houvesse centenas de copias de qualquer escrito, teria a necessidade de centenas de monges copistas copiando tal texto noite e dia. Mas naquele momento, as 95 teses cabiam em um pequenino livro ou em folhetos que todos poderiam adquirir. Também poderiam ouvir, pois esse era o costume de então. As pessoas iam às praças e liam qualquer texto para o povo. Foi como as teses de Lutero se popularizaram. Lidas em publico. Mas, logo a seguir, inventaram grandes cartazes impressos com as teses e os pregaram, com pregos e martelos, em universidades, residências, hospedarias e tavernas.
Os polêmicos que adoravam ser famosos.
Não há na historia um momento como esse. Tomas Moore, Erasmo de Roterdan e Lutero, para ficar apenas em três dos mais famosos, se conheceram, trocaram cartas entre si e polemizaram. O alvo principal desses três eram as indulgências papais. Eles criticavam a ganância com que alguns pregadores vendiam a promessa de salvação eterna com frases como esta: “Assim que uma moeda no cofre cai, uma alma do purgatório sai”. Essa frase é supostamente de um pregador chamado Ketzel, uma especie de caixeiro viajante da salvação das almas em troco de dinheiro. Seu exemplo, seu mau exemplo, bem entendido, deu o impulso inicial de indignação que qualquer revolução precisa para acontecer. As agressões verbais de Lutero para com esse individuo viraram algo como um meme de hoje em dia. Esses três personagens maiores da historia, por outro lado, e tal como hoje nas redes sociais, estavam também embevecidos com sua rápida fama, devida à imprensa. Eles adoravam a fama. E também, usavam algo “inovador“: as agressões verbais. Os três xingavam o Papa com frases de efeito, que logo se popularizavam. Uma das mais famosas era: “O Papa é a prostituta da Babilônia”. Tremenda cacetada. Existe algo de novo no reino de Pablo Marçal e seus assemelhados? Eles nem sabem, mas não passam de meros copiadores.
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