Ciências: quarentena provoca fome de contato social
Mário Sérgio Lorenzetto | 06/04/2020 07:00
Enquanto boa parte da população mundial se reclusa para evitar o vírus, nossas telas se enchem de rostos. Por todas as partes vemos imagens de parentes e amigos. Se tínhamos alguma dúvida de que somos seres sociais, de que necessitamos dos demais, esta crise borrou qualquer ideia semelhante. E justo agora, com grande sentido de oportunidade, vem à luz um estudo que mostra que nosso cérebro tem mais uma necessidade. A solidão ativa os mesmos circuitos cerebrais da fome.
Cientistas do MIT provam a fome social.
"Descobrimos que o isolamento social agudo causa sinais de desejo neuronal no cérebro similares à fome aguda", essa a conclusão a que chegaram os cientistas do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT). Submeteram um grupo de quarenta pessoas a uma privação social e de alimentos, em dias distintos, para observar a reação do cérebro. As conclusões sobre a fome de contato social são claras.
"Descobrimos que o isolamento social agudo causa sinais de desejo neuronal no cérebro similares à fome aguda", essa a conclusão a que chegaram os cientistas do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT). Submeteram um grupo de quarenta pessoas a uma privação social e de alimentos, em dias distintos, para observar a reação do cérebro. As conclusões sobre a fome de contato social são claras.
Autoconfinados em zoológicos humanos.
Durante milhares de anos nossos corpos e cérebros foram moldados para vivermos em sociedades de iguais. Devemos esquecer tudo que ouvimos
Durante milhares de anos nossos corpos e cérebros foram moldados para vivermos em sociedades de iguais. Devemos esquecer tudo que ouvimos
dizer acerca do homem ser descendente do macaco. Não descendemos do macaco. Somos macacos. Ou, mais precisamente, símios. O Homo sapiens nada mais é que uma das cinco espécies de símios que ainda existem, junto com o chimpanzé, o orangotango, o bonobo e o gorila. Temos ouvido falar que somos especiais. Talvez. Mas há algo em que somos exatamente iguais aos demais macacos - a necessidade de estarmos juntos, de socializarmos.
Civilizados até a morte.
Mas ao contrário deles, nos autoconfinamos nesses zoológicos humanos que apelidamos de cidades. Tal como os demais macacos, uma vez aprisionados, nossos cérebros entram em pane, mal estar e sofrimento. Avizinha-se uma pandemia de enfermidades mentais, vem à tona os efeitos corrosivos da desigualdade, os conflitos dos adolescentes e dos não muito adolescentes e os problemas da repressão sexual. Mas a repressão sexual é um tema ainda mais explosivo que o vírus, fica para outra conversa. Não se iludam, neste momento, não há outra alternativa científica momentânea a não ser o confinamento. Qualquer afrouxamento equivale a um salto no abismo.