Esta crise empurrará para cima os trabalhadores da saúde
Estamos vivendo em um mundo sem líderes. Nunca vimos um presidente dos Estados Unidos tão estranho como Donald Trump, tão pouco presidencial, um personagem fora das normas e fora de seu papel. E não é casualidade: os Estados Unidos abandonaram o papel de líder mundial. Hoje não há ninguém. Se olharmos para a Europa, ninguém responde pela liderança. Não há ninguém no alto da tabela.
A queda do movimento dos trabalhadores.
Ainda não perceberam, mas a queda do movimento dos trabalhadores no Brasil, não é apenas decorrente dos maus feitos do PT, é mundial. O movimento dos trabalhadores dava um dos sentidos ao mundo. Caiu. Está em coma. Hoje não há atores sociais, nem políticos, nem mundiais, nem nacionais e nem de classe. Por isso, o que temos é uma máquina biológica de um lado e, do outro, pessoas e grupos sem ideias, sem direção, sem programa, sem estratégia e sem linguagem. Resta o silêncio. E um pequeno barulho cacofônico, desagradável, daqueles que subvertem as emoções: ecologistas de um lado, a extrema direita do outro.
Vivíamos em um mundo norte-americano.
Vivemos dois bons séculos na sociedade industrial. Em um mundo dominado pelo Ocidente durante 500 anos. Hoje acreditávamos, e foi o caso nos últimos 50 anos, que vivíamos em um mundo norte-americano. Agora, talvez, passemos a viver em um mundo chinês. Estados Unidos afunda a cada dia. Mas a China vive uma situação contraditória, que não durará eternamente: se economicamente é exemplar, quer praticar o velho e carcomido totalitarismo maoista para gestionar o sistema mundial capitalista.
Vivemos em lugar algum.
Nos encontramos em nenhum lugar. Vivemos em uma transição brutal, que não foi preparada e nem pensada. Eu mesmo me encontro em lugar nenhum, uma vez que não tenho o mais comezinho dos direitos que é o de sair à rua.
É muito cedo para sabermos o que faremos economicamente. Politicamente só nos pedem para ficarmos em casa. Estamos no não-sentido. Creio que muita gente ficará louca pela ausência de sentido.
Uma nova sociedade que empurrará para cima os trabalhadores da saúde.
Teremos outras catástrofes. Me estranharia muito se nos próximos dez anos não tivermos catástrofes ecológicas importantes. Atenção, as epidemias não são tudo. Entramos em um novo tipo de sociedade. Uma sociedade de serviços, como dizem os economistas. Mas de serviços entre humanos. Esta crise - e as próximas - empurrará para cima os trabalhadores da saúde. São fundamentais nesta crise, serão tão ou mais importantes nas próximas. Eles não podem continuar ganhando tão pouco. Essa é a única luz do futuro que enxergamos com alguma claridade. Um choque econômico produzirá reações que podem ser denominadas de fascistas? Ou talvez de profundamente humanista? Ninguém sabe.