Golpes, traições e rasteiras na divisão do Estado
Criado Mato Grosso do Sul, seus políticos finalmente ficaram livres de Cuiabá. O governo do “norte”, sempre identificado como estranho aos interesses do sul, já não mais tolheria suas intenções de fazer deste território um “modelo” em termos político-administrativos. Enfim, a liberdade. Mas com ela, vieram os golpes.
Bobeou, levou rasteira!
Inicialmente, as conspirações de bastidores e dissensões ocorriam incessantemente no interior da ARENA, o partido que representava a ditadura. Em um curto espaço temporal foram nomeados por Golbery do Couto e Silva, o mais inteligente do generais de Brasília, três governadores: Harry Amorim, (janeiro a junho de 1.979), Marcelo Miranda ( junho de 1.979 a setembro de 1.980) e Pedro Pedrossian (outubro de 1.980 a março de 1.983).
Antigos adversários, prisioneiros da ARENA.
Abaixo as oligarquias tradicionais! Oligarquia é um termo usado desde a Grécia Antiga para designar “os poucos” que não aceitam a democracia. Esse era o lema que Pedrossian usara para derrotar Lúdio Coelho em 1.965 nas eleições para o governo. Ele discursou: “Um dos objetivos da preservação do Poder pelas oligarquias tradicionais até 1.965 era a manipulação de terras públicas em benefícios de interesses particulares…”. Pedrossian sustentava um discurso à esquerda com uma prática à direita. Acusava seus adversários do mesmo partido de se locupletarem na aquisição de terras públicas. Há quem diga que seus discursos eram redigidos por João Leite Schimidt, um dos mais cultos políticos deste estado, de origens à esquerda. Mas quem eram os oligarcas adversários de Pedrossian? José Fragelli e Fernando Correa da Costa, sem dúvida os mais importantes, acompanhados por Rachid Saldanha Derzi, Paulo Coelho Machado e os Coelhos, Lúdio e Italivio. Água e óleo presos no mesmo copo chamado ARENA, não se toleravam. A oposição à ditadura - e a todos da ARENA - era comandada pelos irmãos Barbosa Martins, Wilson e Plinio - dirigentes do MDB.
“Todos sabiam que seria eu”.
Pedrossian sempre afirmou que ele era para ser o primeiro governador do MS. Conforme suas palavras, só não o foi por não ter obtido consenso na ARENA. Esse partido era uma invencionice artificial que forçava eternos inimigos a conviver no mesmo espaço político. O consenso era impossível. E foi dessa impossibilidade de convivência que Gobery acabou escolhendo um “estranho no ninho”: o gaúcho Harry Amorim caiu de paraquedas no governo estadual. E, é óbvio, foi rejeitado pelas duas correntes predominantes da ARENA. Na primeira rasteira, caiu após tão somente seis meses de governo. Engenheiro, técnico, tinha ideias burocráticas que se chocavam com os interesses dos políticos. Acreditando que Golbery só aceitaria outro candidato de mesmo perfil tecnocrático, Fragelli, Rachid, Lúdio e os demais membros desse grupo, inventaram outro engenheiro: Marcelo Miranda. Era para ser apenas um títere. Não suportou as pressões constantes de Pedrossian. Não tinha capacidade politica, tal como seu antecessor Harry Amorim. E caiu. Pedrossian assumiu o governo para dele não sair. Não haveria grupo que o derrubasse. Criou uma pseudo-nova-corrente política: o pedrossianismo, uma mistura de coisa alguma com muito dinheiro emanado de Brasília. Uma ode ao personalismo desvairado com uma grande capacidade de erigir enorme quantidade de obras.
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