Historieta dos quadrinhos. Muita ação, poucas palavras
As primeiras revistas em quadrinhos eram vistas como lixo literário. Conforme o pensamento da época, só serviam para crianças e adultos com limitações intelectuais. Eram mal escritas, desenhadas nas coxas e com impressão abominável. Martin Goodman, fundador do que hoje conhecemos como Marvel Comics, afirmou que bastava enfiar ações aos montes e não usar palavras demais para criar um "Marvel" - uma Maravilha.
Procurando manter a gráfica funcionando, assim saíram as revistas em quadrinhos.
A história é pra lá de imperfeita. Em 1933, Maxwell Gaines, um representante comercial estava à procura de manter as rotativas de algumas gráficas funcionando. E veio a ideia. Republicou em formato meio tabloide as tirinhas mais populares dos jornais. Só para experimentar, tascou um preço mínimo na primeira revistinha, apenas dez centavos de dólar. Logo esgotaram ao serem postos à venda em uma só banca. Não demorou para que alguns editores seguissem o modelito. Muitos saíram editando as tiras em revistinhas. Eram histórias de detetives, faroeste, de aventuras ou ambientadas na selva. Muita ação, poucas palavras, viraria uma nova forma de editar.
Entram dois judeus nerds desejando os olhares das garotas.
E nesse pequeno mundo editorial entram dois jovens judeus. Jerry Siegel, aspirante a escritor, e Joe Shuster, metido a artista, mais do que escrever ou desenhar desejavam conquistar os olhares das garotas, com a fama e a riqueza. Desenvolveram a ideia de um alienígena super-humano, vindo de um planeta moribundo, que lutava pela liberdade, pela justiça e pelos valores do New Deal, a saída da miséria em que estivera metido os EUA.
Treze páginas a dez dólares cada uma... e nada mais.
A história pode ser considerada trágica. Nenhuma editora aceitou publicar os primeiros trabalhos de Siegel e Shuster até que... surge no horizonte sombrio a figura do representante comercial Maxwell Gaines. Comprou treze páginas do Super Homem por dez dólares cada uma. Os honorários incluíam todos os direitos sobre o personagem. A criação dos dois jovens judeus não foi só o molde do novíssimo gênero que passou a definir as histórias em quadrinho, virou o paradigma trágico do criador que não recebe bons rendimentos por sua criação, que ficam concentrados nas mãos dos editores.
Goodman em busca de milhões de moedinhas.
É praticamente consenso que o Superman criou a era de ouro dos quadrinhos. A ingenuidade juvenil do herói parecia ser parte de seu apelo. Convocava os rapazotes a um tipo de história inovadora, ainda que um pouco infantil. A lógica estava proibida. Valia tudo. Voar, bater, soprar, enxergar... sempre em dimensões alucinantes. Faziam as crianças gastarem milhões de moedinhas por mês.
Enxames de imitadores catapultaram aos céus hordas de heróis... e de vilões, é claro. Um não vive sem o outro. Como pode viver um Moro sem um Lula. Ops, era para ser um Superman sem um Lex Luthor. De moedinha em moedinha, uma montanha de moedas, Martin Goodman, o fundador da Marvel, fez uma fortuna do tamanho do Everest. A ingenuidade vende mais que pãozinho quente.