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Em Pauta

Lutero e as teses que revolucionaram a Europa

Mário Sérgio Lorenzetto | 09/11/2017 06:58
Lutero e as teses que revolucionaram a Europa

Se a sangrenta história religiosa da Europa pudesse ser medida como foram celebrados o centenário de Martinho Lutero, no 31 de outubro de 2017, não poderia ser mais pacífica e ecumênica. Até o Papa Francisco se uniu aos festejos. Primeiro colocou uma estátua no Vaticano deste que era considerado o maior herege cristão. Foi em um encontro de líderes católicos e luteranos. Ainda que a instalação da estátua de Lutero fosse temporal, o gesto é impressionante. Francisco também viajou à Suécia para participar como Presidente da Federação Luterana Mundial, Munib Younam, na abertura do "ano Lutero" em uma cerimônia oficiada na catedral luterana de Lund.
Tachado durante séculos como o pior dos hereges, com brutais execrações, entre os que reabilitam a imagem de Lutero abundam teólogos católicos neste momento. Alguns o colocam no mesmo nível de Tomás de Aquino e de Santo Agostinho.

Lutero e as teses que revolucionaram a Europa
Lutero e as teses que revolucionaram a Europa

Havia um clamor pelas reformas.

Wittenberg era em 1517 a capital do ducado da Saxonia, uma cidade próspera graças ao comércio e a riquezas minerais. Hoje tem apenas 50.000 habitantes e vive sobretudo do turismo que atrai a fama de seu hóspede mais famoso. Lutero era professor de sua universidade quando lançou suas teses reformistas depois de atravessar uma crise espiritual que o levou a conceber uma nova fé. No princípio do século XVI, muitas pessoas importantes dentro da Igreja clamava por reformas. Havia imensa corrupção. Os postos eclesiásticos podiam ser comprados. Muitos sacerdotes eram adúlteros, bêbados e ignorantes da Bíblia. Maquiavel os apresentou de forma brutal: " Nós os italianos somos mais irreligiosos e corruptos que outros, porque a Igreja romana nos deu o pior exemplo".
Aquela noite há 500 anos germinou o segundo grande cisma da cristindade, depois da separação em 1054 de católicos e ortodoxos. Lutero abria novas maneiras de ver o mundo. A Reforma marcou a história do mundo.

Lutero e as teses que revolucionaram a Europa
Lutero e as teses que revolucionaram a Europa

Lutero não desejava uma nova igreja e sim acabar com práticas condenáveis.

"Os justos viverão pela fé", foi a ideia central de Lutero. Não quis fundar uma nova igreja e sim debater sobre práticas condenáveis no papado romano. "A graça e a misericórdia de Deus são gratuitas", disse contra a venda das indulgências, contra a venda de bulas papais que absolviam pecados para dar mais lustro e luxo à Basílica de São Pedro. Lutero sustentava: " Só é lucro e avareza. Porque o Papa cuja fortuna é hoje mais abundante que a do mais opulento rico, não constrói a basílica com seu próprio dinheiro, em lugar de fazê-lo com o dos pobres crentes?"

Lutero e as teses que revolucionaram a Europa

Lutero crê na liberdade de pensamento.

Com o cristianismo evangélico - luteranismo - surge uma nova forma de relação com Deus, mas também uma revolução da estrutura social e a construção política. Lutero predica pela liberdade de credo, em consequência, a liberdade de pensamento. Os protestantes creem que a salvação não depende das obras e sim da fé. Só têm dois sacramentos: o batismo e a eucaristia.
"Sapere aude". Usar sua própria razão. Com a tradução da Bíblia ao alemão, uma grande façanha literária, Lutero assumia um dos pressupostos da Ilustração, que tanto ofendera o Vaticano: que as pessoas comuns aprendessem a ler, a escrever e a pensar, além de disfrutar da Bíblia em sua própria língua, sem tutelas ou censuras papais.

Lutero e as teses que revolucionaram a Europa

A excomunhão de Lutero.

O Vaticano duvidou sobre a necessidade de castigar Lutero. Media suas forças e não as encontrava. Finalmente, as 95 teses luteranas foram condenadas por Leão X em 15 de junho de 1520 pela bula "Exsurge Domine e Lutero", excomungado no ano seguinte. Hoje, se discute na Europa se o Papa Francisco prepara uma reabilitação. Famosos teólogos entendem que ele não poderá levantar a excomunhão de Lutero. Isso só pode acontecer em vida, argumentam. Mas Francisco reconhece que as intenções do famoso padre agostiniano não estavam erradas.

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