O dialeto das mulheres japonesas mudou o mundo
"Se é mulher, proteja-se: utilize o vagão separado", recomendam os cartazes da estação, enfeitados por ilustrações de jovens estudantes sorridentes que se põem a salvo de uma ameaça que não está desenhada nesses cartazes. É hora do rush. O metrô do Japão, sempre cheio, está abarrotado. Ela supera os trinta anos. Vai ou volta do trabalho. E escolhe subir no vagão de letreiro rosa. "Só para mulheres" indica um lugar na estação.
Ali todas falam o mesmo idioma: o "joseigo", também chamado de "fujingo". Um dialeto próprio, composto por palavras intrínsicamente femininas. Todas são parecidas ou foram tiradas aquelas inventadas por uma mulher chamada Sei Shonagon, há mil anos, quando escreveu o hoje venerado "Livro da Almofada". Eram apenas apontamentos sem importância. Sobre coisas que tinham importância apenas para elas: o comum, o cotidiano, o doméstico. Assuntos sem status suficiente para entrar com suas palavras no dicionário do Japão.
Alguns poucos exemplos: "komorebi" significa a luz que se filtra através das folhas das árvores", poético dialeto. Mas também de luta. A palavra mais usada atualmente no dialeto das mulheres japonesas é "gaman", a capacidade de lutar quando se crê que tudo está perdido.
E o mundo mudou.....
"Chikan Express", foi o termo desse dialeto feminino que mudou o mundo. A tradução significa "trem pervertido". Durante os anos noventa, começaram a usar essa denominação à linha Midosuji, da cidade de Osaka, devido ao descomunal número de abusos sexuais que as mulheres sofriam quando nessa linha viajavam.
O Japão foi o primeiro país do mundo a criar vagões de metro só para mulheres. Dali, o mundo mudou... para melhor. Ficou um pouco mais seguro. Saída dos metrôs japoneses, a ideia vingou em todos os países. Chegaram aos ônibus. E, depois de muito tempo, chegaram aos ônibus de Campo Grande. Algumas mulheres começaram a denunciar os abusos que sofriam nos nossos ônibus. Após as primeiras denúncias, quando ouviam o tradicional "prove", parcas atitudes das autoridades começaram a ser tomadas.
Passou da hora de termos ônibus especiais - só para mulheres - nos horários de maior fluxo de passageiros. Passou da hora delas construírem seu próprio dialeto - de luta, de não aceitação dos abusos a que são submetidas.
Está faltando ninjas no Japão?
A oferta parece suculenta: salário de R$28 mil mensais para ser um ninja na cidade japonesa de Iga. O lugar, que disputa com outras cidades do país asiático pelo título de "Berço dos Ninjas", sofre escassez desses afamados guerreiros. Ou ao menos essa é a notícia que uma rádio dos Estados Unidos levou ao ar. A repercussão foi imensa. A prefeitura de Iga ficou abarrotada com os telefonemas de interessados de 14 países, inclusive do Brasil. Acabam de emitir um comunicado em cinco idiomas - entre eles, português - negando que há falta de ninjas e rechaçando que estejam empregando candidatos a ninja.
A origem da confusão - a rádio NPR - que emitiu um áudio de 10 minutos convocando os ninjas, relacionaram o despovoamento das zonas rurais do Japão, onde está Iga, que conta com somente 89.000 habitantes, e sua imensa indústria turística. Os ninjas são a base do turismo nessa região.
Há festivais de ninja em alguns meses do ano em Iga. Mas a cidade vem perdendo mais de 1.000 habitantes por ano. Esse fato, criou a confusão. Uma cidade rica em turismo, mas desfalcada de população. Seu prefeito, Sakae Okamoto, deu o pontapé inicial do equívoco ao afirmar que a cidade necessita de mais gente que ali viva e trabalhe. Também afirmou que a percentagem de desemprego na região é de tão somente 2,5%, uma taxa que impede encontrar novos empregados para o excesso de vagas de emprego. Topa ser ninja, ou comerciário em Iga? Emprego de ninja só nas filas.