O nascimento do império dos magros. A contagem das calorias
Todo mundo sabe que consumidos em excesso, cerveja, bolo, pão, pizza, hambúrguer e todas as coisas que, sejamos sinceros, fazem a vida valer a pena contribuem para uns pneuzinhos extras porque nos fazem absorver calorias em demasia. Mas em que exatamente consistem as calorias, essas pequenas unidades que nos deixam arredondados e flácidos?
Uma medida complicada.
O quilo é uma unidade, uma forma de medir o peso você vê e entende. O mesmo acontece com o metro, muito fácil de entender. E a caloria, você entende o que significa? Ela é uma estranha e complicada medida de energia dos alimentos. O correto é "quilocaloria", definida como a quantidade de energia exigida para aquecer um quilo de água a um grau Celsius. Mas quase ninguém sabe disso e nem pensa nesses termos na hora de decidir o que vai comer. A quantidade está de calorias que cada um de nós necessita é, em larga medida, uma questão pessoal.
O início do império dos magros.
Até 1964, a orientação oficial era de 3.200 calorias por dia para um homem modernamente ativo e 2.300 para uma mulher na mesma condição. Após muitos debates, muitos interesses em conflito, queriam vender novos conceitos e muitos produtos, esses valores foram baixados para cerca de 2.600 calorias entre homens moderadamente ativos e 2.000 entre mulheres moderadamente ativas. No decorrer de um ano, corresponde a quase um quarto de milhão de calorias a menos. A magreza começava seu reinado. Saem as pizzas , entram as proteínas e toda sorte de sementes exóticas. "Quem não for magro, bom sujeito não é", diziam os "especialistas". O preconceito, a gordofobia, alcançava níveis inimagináveis.
O pai da medição de calorias era gordo.
O pai da medição de calorias era um gordo, devoto e bondoso. O acadêmico, químico agrícola, norte-americano, Wilbur Olin Atwater usava um bigode de morsa e era um glutão, só faltava comer a mesa. Em uma viagem à Alemanha, foi apresentado ao empolgante conceito da caloria e quando regressou aos EUA empenhou-se de forma fervorosa em levar rigor científico à ciência recém-nascida da nutrição. Como,professor de química, procedeu à uma série de experiências para testar todos os aspectos da ciência alimentar.
Testando, este hambúrguer tem muitas calorias....
As pesquisas de Atwater eram meio bizarras inicialmente. Em uma delas, comeu peixe contaminado para estudar os efeitos. Por pouco não morreu. O projeto que o tornou célebre foi a construção de um dispositivo que ele chamou de "calorímetro". Era uma câmara lacrada, não muito maior que um armário, em que os voluntários ficavam confinados por até cinco dias. Atwater e seus 16 ajudantes mediam várias facetas do metabolismo do corpo humano - a absorção de alimentos, a de oxigênio, a produção de dioxido de carbono, ureia, amônia... e estimavam o consumo de calorias. O presidente do instituto onde Atwater fazia suas pesquisas ficou abismado com os custos dessa pesquisa. Mal imaginava que ali estavam criando uma nova e bilionária indústria: a dos magros a qualquer custo, custos grandiosos. Ser magro é, antes de tudo, caro.