O vírus reforçará as máfias
As máfias são competentes, sabem aproveitar as necessidades. A pandemia está confirmando. Nos últimos decênios, as máfias passaram a investir em pecuária, agricultura e em serviços. Começaram a tomar conta de setores da economia que eram insuspeitos. Quem imaginaria que mafiosos fossem donos de serviços fúnebres, por exemplo? Ou de clínicas de saúde? Também entraram em atividades como distribuição de alimentos. Áreas que eram fundamentais que agora se tornaram vitais.
O dogma do silêncio.
Só há duas atividades humanas que vivem do silêncio e jamais revelam segredos: o padre na confissão e os mafiosos na execução. Mas a epidemia, ao monopolizar e confiscar nossa atenção, lhes deu outra grande vantagem: deixamos de desejar a quebra do silêncio assassino mafioso. Os números mostram que o número de assassinatos aumentou no Brasil da epidemia. Certamente, boa parte devido aos mafiosos e a suas concorrentes milícias. São farinhas do mesmo saco. No México acabam de fazer as contas: os mafiosos mataram duas vezes mais na pandemia.
Na pandemia, droga é igual comida: crescem as vendas.
Todos já conhecem a projeção: para dez cargas de drogas que entram no Brasil, prendemos uma. Um experiente policial desse setor afirma sem pestanejar: "aumentou muito na epidemia". Não há margem para dúvida, a segurança está atribulada com a epidemia. Seus maiores esforços estão concentrados em cuidar das cidades. As fronteiras aéreas, marítimas e terrestres estão com menores contingentes e cada um dos agentes, com menos energia para o combate. São humanos, podem não temer os mafiosos, mas temem o vírus. O mesmo policial define a questão: "a epidemia fez aumentar o consumo de drogas, precisam esquecer da desgraça".
Mais do que nunca, tomaram conta dos bairros da periferia.
A chave do sucesso das máfias sempre foi a ausência do governo. No passado, construíam quadras e eventos esportivos em bairros dominados. Hoje, uma boa parte da luta contra o vírus está sendo exercida por eles. Montaram rapidamente uma rede de proteção social. Enquanto os governantes fazem futricas e trocam tapas, foram os mafiosos que abasteceram as famílias com artigos de primeira necessidade. Enquanto o governo levou - e levará - dois ou mais meses para dar os famosos seiscentão (e suas filas mortíferas), em dois ou três dias os mafiosos haviam montado uma rede de doações e de empréstimos a juros zero ou pouco mais de zero.
E o dia depois da pandemia?
Não há margem para dúvida, milhares de pequenas empresas já estão fechando as portas. Outras milhares fecharão em poucas semanas. Para cada empresário em risco de bancarrota, haverá um mafioso disposto a intervir com injeções de capital. Salvarão a empresa e ganharão novos sócios. Enquanto isso, os bancos só vendem dinheiro para quem está com boas condições financeiras. O governo finge que não enxerga a realidade. Onde a covid-19 não chegar, as máfias chegarão.