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Em Pauta

Por um Tiradentes verdadeiro ou um mito a mais?

Mário Sérgio Lorenzetto | 22/04/2020 07:00
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Nos mercados vendia-se feijão, trigo, arroz, hortaliças, abacaxis, bananas, melões, melancias, figos e uvas. A mesa do brasileiro era pobre. O feijão era preto comido com toucinho ou carne seca, quando não virava tutu. As ruas fervilhavam. Era um vaivém de faiscadores, mineiros, comerciantes, sapateiros, músicos, sacerdotes, prostitutas e militares. Essa era Vila Rica, sede da capitania das Minas Gerais, no século XVIII.


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Descendente de portugueses.

Não se equivoquem, Tiradentes não veio de Marte e nem da Revolução Francesa. Era descendente de portugueses. Os mesmos que se sentiram traídos e empaparam sua cabeça em sal, fincada na praça principal da cidade mineira que hoje é Ouro Preto. Joaquim José era um dos mais radicais membros da Conjuração Mineira. Ecoavam a mobilização ocorrida nos Estados Unidos que culminou dom a ruptura dos laços com a Inglaterra. Clamavam por liberdade, mas uma liberdade restrita. A escravidão continuaria em seus planos.


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De mascate a revolucionário.

Tiradentes começou a ganhar a vida como mascate. Depois incursionou pela atividade rural. Não obtendo bons resultados, virou mineiro. A sorte não lhe sorriu mais uma vez. Foi praticar uma difícil "arte": tirar dentes. Mais uma vez, não obteve sucesso, virou médico prático. Dai, para o Rio de Janeiro, talvez novos ares lhe trariam o bafejo da fortuna. Sua vida foi confusa. A vida afetiva também.


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Os planos de independência.

A conjuração reuniam homens com visões e propósitos bem diferentes. Tiradentes certamente era um dos mais radicais. Pretendia romper os laços com Portugal e fundar a primeira República da América do Sul, em que governantes seriam eleitos e teriam mandatos fixos. Na cabeça de Tiradentes haveria uma revolução com sangue correndo em uma guerra. Ele acreditava que rios de sangue correriam durante três anos. Este é um mundo estranho. Os guerreiros sempre determinam a data do fim das guerras. Que nunca acontecem. O plano era conquistar as Minas Gerais, com alguma sorte, o Rio de Janeiro. Poucos pensavam em São Paulo.


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Meio século de esquecimento.

Tiradentes morreu em 1792 e ficou esquecido por meio século. Em meados do século XIX foi resgatado pelo movimento republicano. Precisavam de um herói para chamar de seu. É aí que surge a manipulação e fantasia do Tiradentes a lá Jesus. Um homem de barba, cabelos longos e os olhos fixos nos céus. Um santo! O mito foi bem criado. Até nossos dias, pouco se sabe sobre essa história. O curioso é que todas as vertentes ideológicas brasileiras adotaram o mito Tiradentes em algum momento. Da extrema esquerda à extrema direita, todos o reverenciam, mas não patrocinam um estudo acurado sobre quem foi o verdadeiro homem. Ficam deitados em berço esplêndido reverenciando o mito.

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