Remdesivir, a guerra de dados entre medicos
Depois da cloroquina, o remdesivir ocupa as manchetes mundiais. Assim como Trump e Bolsonaro fizeram multiplicar por 2.000 as vendagens da cloroquina, médicos famosos e testes fizeram disparar as ações do remdesivir. Esse medicamento era uma das maiores apostas dos médicos para o tratamento das infecções acusadas pelo covid-19. Não estava nos microfones dos governantes. Foi criado para combater o ebola, mas não demonstrou efetividade. Nos últimos meses demonstrou efetividade no combate ao novo coronavírus em testes realizados em laboratórios e em animais.
O início da guerra entre médicos.
A Gilead publicou os testes realizados com 400 enfermos nos Estados Unidos, Itália, Espanha e Coreia do Sul. São dados não revisados por especialistas e nem publicados em alguma revista científica, regras invioláveis da ciência. Os resultados mostram que mais da metade dos pacientes receberam alta em até 14 dias de tratamento. A Gilead também assinala que os pacientes que tomam o remdesivir antes do décimo dia de contraída a infecção tem melhor prognóstico que aqueles que tomam depois. O remédio foi bem tolerado pela maioria dos pacientes, todavia, 10% teve náuseas e falhas respiratórias agudas. O anúncio da Gilead disparou suas ações nas bolsas.
Hospital da Amizade China-Japão diz que o remdesivir não cura a covid-19.
Poucas horas depois do anúncio da Gilead, o Hospital da Amizade China-Japão, fez o anúncio inverso. Conforme chineses e japoneses, o remdesivir é "água com açúcar", não traz vantagem alguma para os enfermos do novo coronavírus. Fizeram uma pesquisa, publicada na revista científica The Lancet, com 237 pacientes. Todavia, reconhecem que esse estudo tem limitações pois só conseguiram testar em 237 pacientes. O teste estava planejado para ser realizado com 453. As ações da Gilead afundaram.
E veio o terceiro lance da guerra.
Ainda nesse mesmo dia, o Instituto Nacional de Enfermidades Infecciosas dos EUA publicou outro estudo do remdesivir. Inacreditável, três estudos em 24 horas. Esse outro teste foi realizado apenas nos EUA, mas com grande quantidade de pessoas. Nada menos de 1.063 pacientes em estado grave tomaram remdesivir ou um placebo (água com açúcar). 31% dos pacientes que tomaram remdesivir se recuperaram antes do que aqueles que tomaram placebo. A mortalidade dos que tomaram remdesivir foi de 8%. Para os que tomaram placebo foi de 11, 6%. As ações da Gilead subiram novamente. Essa é uma guerra entre médicos, mas também é uma disputa violenta nas bolsas.