Tea Party: a origem da nova direita mundial
O que é Tea Party? Quem move os fios do Tea Party, esse movimento que deu a partida para a ascensão da nova direita mundial e brasileira? Todos ouvimos falar dele. Em muito pouco tempo adquiriu considerável influência na política norte americana. Mas, apesar do nome, não é um partido estruturado e ainda que pareça o contrário, não têm um líder visível.
Aos defensores e admiradores do Tea Party - no Brasil, quase todos novos militantes da direita - gostam de pensar que se trata de um movimento de origem popular e de fato, essa é a versão corriqueira, mais ou menos oficial sobre seu nascimento, a versão que encontrarão em muitos artigos que tratam dessa pauta. Essa versão nos conta que com a chegada de Obama ao poder, houve um certo número de cidadãos que começaram a opor-se ao aumento de impostos, ou mais concretamente, às políticas sociais que requereram o aumento de impostos. Essa onda de protestos havia sido espontânea. A própria expressão "Tea Party" têm claras conotações populares. É uma referência a um importante episódio na origem da independência dos Estados Unidos. Em 1773, um punhado de homens de Boston - disfarçados de índios - tomaram de assalto um barco britânico que trasportava chá importado e lançaram o carregamento ao mar. Protestavam contra a alta de impostos que a Inglaterra havia colocado sobre o chá. Impostos que iam contra a vontade das colônias dos EUA e eram um sinal de opressão. Esse ato, mais baderneiro que revolucionário, levou a uma espiral de combates entre norte americanos e ingleses, resultando na libertação dos EUA. Assim pois, o nome "Tea Party", entendido como "Partido do Chá", pelos primeiros seguidores, depois como "Comando do Chá", quando militares e policiais aderiram ao movimento e deram uma conotação bélica, é uma recordação de opor-se a impostos faz parte da natureza intrínseca da nação norte americana desde o momento de seu nascimento.
A ativista conservadora que inaugurou o Tea Party.
Ainda que no Brasil escondam a figura de Keli Carender, foi essa blogger e ativista a primeira pessoa a conclamar os protestos, a manifestação inaugural do Tea Party. É um tanto hilário, Keli Carender, pouco antes de Obama aprovar a lei de recuperação de 2009, organizou um ato que foi denominado "Porkulus Protest". Curiosamente, a imagem dessa moça era completamente oposta ao esterótipo dos simpatizantes do Partido Republicano. Eli era jovem, de aspecto ultra moderno, usava piercings e, o mais incrível, habitava um característico bairro do "melting pot", a mestiçagem norte americana, onde Obama reinava. Se alguém a visse nas ruas, apostaria que era eleitora de Obama. Era uma "hipster" nos modos, mas de direita no cérebro. Em termos de imagem, nada seria melhor. Algo tão inimaginável como uma moça brasileira com cabelos rastafari, fumando maconha, ser a ideóloga da candidatura de Bolsonaro. Ela sempre afirmou que seus protestos eram voluntários. O problema é que os estudiosos do voluntariado político-eleitoral afirmam que não existe voluntariado nessa área pois eles sempre são remunerados ou aspiram posições ou melhores salários em uma possível vitória de seu candidato.
Mas há ainda algo mais surpreendente na história do Tea Party. Mesmo que muitos políticos, jornalistas e escritores tenham engrossando esse movimento, nenhum deles aspirou por sua liderança. Os nomes que vieram à público - Sarah Palin, candidata a vice presidente e a Fox, emissora similar à rede Globo nos EUA - jamais aceitaram o epíteto de líderes do movimento.
Libertarismo econômico é sinônimo de liberalismo.
O Tea Party luta especialmente contra os excessivos impostos, que só existem em um governo central forte. Mas o que são "impostos excessivos"? O Tea Party se opõe ao "Estado de Bem Estar Social". Defende um governo o mais reduzido que for possível, bem assim como um mercado livre com a menor quantidade possível de regulações e legislações. Estas são as únicas características que aproximam seus seguidores. São defensores do "libertarismo econômico". É importante explicitar que nos EUA o termo "libertarian" equivale ao que no Brasil denominamos "liberal". Já o termo norte americano "liberal" significa algo parecido com "progressista" no Brasil, alguém mais próximo da social democracia. Libertarian são intrinsecamente ligados aos conservadores, defensores de costumes e valores morais ligados à tradição cristã.
Irmãos Koch, impulsores e mantenedores do Tea Party.
Demorou, mas acabaram descobrindo que os principais impulsionadores e mantenedores do Tea Party eram os irmãos Koch. Charles e David são os proprietários das Koch Industries, um conglomerado de empresas petrolíferas, energéticas e agro-pecuárias. Uma das cinquenta empresas que mais faturam em todo o mundo. Na Forbes aparece como a segunda empresa que mais fatura nos EUA. Um gigante econômico. A família Koch é tradicionalmente direitista e não se importam em declarar essa ideologia. O pai de ambos, Fred Koch, era admirador de Benito Mussolini, ainda que tenha feito sua fortuna vendendo petróleo para Stálin. Era também um dos maiores detratores de Martin Luther King e seu movimento de Direitos Civis.
A direita também defende a legalização da maconha.
Os irmão Koch herdaram a fortuna do pai e o pensamento político. David chegou a se apresentar, em 1980, como candidato à vice presidente pelo Partido Libertário. Um pequeno partido que advogava a drástica redução de impostos, as regulações sobre o salário mínimo, as regulações sobre o mercado financeiro e de energia elétrica. Sua extensa lista de "incompatíveis com a sociedade norte americana" tinha nada menos que o FBI e a CIA. Também se declaravam a favor da posse irrestrita de armas de qualquer calibre. Mas em um inesperado giro anarco-libertário, incluía em seu programa, coisas como a legalização da maconha e da prostituição. Algo que em princípio se chocava com a tradição conservadora da família Koch.