Vírus: a ciência passa por um tsunami de estudos
Estão chamando de "Infodemia", a pandemia de informações e estudos sobre o covid-19. Raras pessoas - e jornalistas - estão preparados para saber o que é certo ou errado sobre esse novo vírus. Mas não importa, as notícias saem à velocidade da luz. Passou batido no Brasil, mas a primeira má noticia sobre o vírus foi de que haveria uma semelhança com o do HIV. Um par de dias na internet, mais de 23.000 tuítes difundiram esse péssimo estudo entre milhões em apenas um fim de semana. Foi retirado do ar, mas há muita gente no mundo que continua acreditando que há relação entre os dois vírus.
Entre informação de má qualidade ou nenhuma informação.
O que é melhor para a ciência e as populações, informação de má qualidade ou nenhuma informação? Estamos diante de um tsunami de estudos científicos que nunca se viu. É uma quantidade inédita. Os estudos sobre o vírus são duplicados a cada duas semanas. No momento, são 700 novos estudos a cada dia. Já há mais de 20.000 novos estudos em três meses. O planeta enfrenta um dilema diabólico: continuar publicando os estudos ainda que de má qualidade ou omiti-los até que estejam revisados?
Tomar ibuprofeno mata?
Em meados de março o mundo se deparou com um estudo que afirmava que tomar ibuprofeno matava quem estava com o covid19. Era um péssimo estudo. Foi retirado do ar. Mas o estrago estava feito. Começando a onda dos testes de má qualidade, nessa mesma data, os Estados Unidos resolveram bloquear milhões de testes para o covid-19 que chegavam da China. Um estudo questionava a validade. Perderam os testes. Só agora estão conseguindo repor a perda. O estudo não valia nada. Os testes foram para outros países, principalmente para a Alemanha, onde não faltam.
Remédios e ideologia.
Não é a primeira vez que os Estados Unidos se perdem na ideologia de medicamentos. Há tempos, anunciavam que encontrariam a cura para o câncer. "Custasse o que custasse". Hoje sabemos que o câncer não é uma doença, mas várias doenças e não teremos uma cura universal. Mas venceram eleições com essa ideologização do câncer. A experiência anterior fez com que os governantes dos EUA passassem a afirmar que tinham um medicamento que curava o covid-19. Até agora não sabemos se a cloroquina "presta", ainda que façamos toda a torcida para que seja um remédio efetivo. Mas só há uma verdade: ninguém no planeta sabe se o tal medicamento do Trump (ideia copiada no Brasil) vale um palito de fósforo. Mas ganha votos, com certeza.
Sem randomização os estudos não tem validade.
Imagine que você deseje estudar um medicamento para curar calo do pé. Quando esse estudo é considerado completo? Só após passar por testes com humanos. Algumas pessoas receberão o fictício remédio para calo e outros receberão água com açúcar. Nenhum deles sabe se está recebendo o remédio ou o placebo (a água com açúcar). Simplificadamente, esses testes são chamados de "randomização". Um ensaio clínico com dois tratamentos com igual número de pacientes. Sem esses testes, é impossível dizer se um medicamento é eficaz.
Sem revisão um estudo não pode ser aprovado.
A outra prova que teu remédio para calo terá de passar é a validação a ser feita por outros cientistas. Durante os testes em laboratório, com animais e, finalmente, com humanos, os testes devem ser acompanhados por outros cientistas que não podem estar participando na elaboração do remédio para o calo. Devem ser, obrigatoriamente, independentes.
O esforço dos ingleses.
E é nesse ponto que o tsunami de estudos está esbarrando. Não há cientistas no mundo para validar os estudos. A Inglaterra acaba de contratar 800 cientistas só para a validação. Mal começaram os trabalhos e estão reclamando que não conseguem acompanhar minimamente o tsunami de estudos. Ma qualidade dos estudos ou nenhuma informação antes do término?