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Luto antecipatório pode ser menos doloroso?

Por Lia Rodrigues Alcaraz (*) | 22/08/2024 09:43

Variadas são as formas de luto e de vivência de um luto, e como sempre coloco em alguns textos sobre o luto, não existe uma formulação correta e mais adequada para se vive-lo, no entanto existem situações que podem criar uma problemática maior ou menor, dependendo do caso. Quando pensamos na vivência de um luto antecipatório e a aceitação familiar do fim da vida, são temas delicados que envolvem profundas emoções e desafios tanto para aqueles que se encontram em uma situação terminal quanto para seus entes queridos. O luto antecipatório então, refere-se ao processo de vivenciar a dor da perda antes da morte de fato ocorrer, diferente do luto tradicional, que começa após a morte, o luto antecipatório se manifesta durante o período de adoecimento ou ao se enfrentar uma doença terminal, à medida que familiares e amigos se preparam emocionalmente para o desfecho inevitável.

Esse tipo de luto pode ser paradoxal: enquanto prepara o indivíduo para a perda, também acarreta uma carga emocional intensa, marcada por sentimentos de impotência, tristeza e até mesmo culpa. Durante esse processo, a aceitação familiar do fim da vida se torna um aspecto central, aceitar que um ente querido está prestes a partir não significa desistir ou perder a esperança, mas sim respeitar o ciclo natural da vida e entender os limites da medicina e do corpo humano.

A aceitação familiar do fim da vida é crucial para que o processo de despedida ocorra de forma mais serena, pois quando os familiares resistem à aceitação, pode haver insistência em tratamentos invasivos e desgastantes, prolongando o sofrimento sem oferecer real qualidade de vida. Por outro lado, quando há aceitação, as decisões tendem a se orientar mais pelo conforto e pela dignidade do paciente, priorizando cuidados paliativos e proporcionando um ambiente mais acolhedor para o fim da jornada.

Para além disso, o luto antecipatório permite a elaboração de questões pendentes, a expressão de afetos e a construção de memórias significativas, a família e o núcleo familiar, nesse contexto, têm a oportunidade de fortalecer vínculos e preparar-se emocionalmente, o que pode facilitar a vivência do luto após a perda efetiva, aceitar e entender o luto antecipatório são processos interligados, embora sejam dolorosos, podem promover um caminho mais humano e respeitoso para a despedida. Embora a aceitação do fim da vida não anular a dor da perda, pode de certa forma transformar o sofrimento em uma experiencia de amor, de respeito e compreensão da finitude.

(*) Lia Rodrigues Alcaraz é psicóloga formada pela UCDB (2011), especialista em orientação analítica (2015) e neuropsicóloga em formação (2024). Trabalha como psicóloga clínica na Cassems e em consultório.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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