As mulheres na discussão e decisão de gestão das águas
Pelo menos metade da população mundial é composta de mulheres e a água é a fonte da vida e do desenvolvimento humano. Por isso é extremamente relevante a participação das mulheres na discussão e decisão de gestão dos recursos hídricos.
Pesquisa feita pela educadora ambiental Áurea Garcia, que culminou em sua tese de doutorado do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), "Mulheres, Água e Educação Ambiental: olhares diversos na promoção de interconexões", a qual aponta a importância da participação das mulheres nos processos de discussão e decisão na gestão das águas. Tendo a educação ambiental como um meio para mobilizar e incentivar a maior participação feminina neste tema.
A educação ambiental provoca e busca transformar olhares para o cotidiano, que muitas vezes não é visto ou não entendido como parte de um ecossistema em que é necessário ter as várias conexões de relações e cuidados com o Outro e com os demais seres vivos.
Por meio da soma de esforços e parcerias, foi possível realizar entre 2013 e 2014 o curso de formação em Gênero, Água e Educação Ambiental (GAEA), que proporcionou 150 vagas e foi aplicado pelo sistema de Educação à Distância (EAD), pela UFMS. Em 2015 a formação GAEA ganhou sua versão impressa com todos os materiais e didática utilizados durante o curso de extensão, com o bônus das produções dos cursistas em forma de relato de experiências, demonstrando o êxito da iniciativa nas reflexões realizadas.
Participaram do curso, lideranças locais homens e mulheres, sendo que muitos deles tiveram o primeiro contato com o tema gênero com as aulas. Também foi o primeiro contato de grande parte dos alunos com a educação à distância.
A formação GAEA, tem como proposta pedagógica, com base em Paulo Freire, provocar para que os envolvidos olhem para o contexto local, reflitam e descubram formas de promover ações e intervenções para solucionar suas problemáticas locais. Assim, as pessoas da própria comunidade se tornam protagonistas, se reconhecem no contexto local e conhecem seus córregos, árvores e ruas.
Algo importante nesse reconhecer, é que essas ações sejam na coletividade, no bairro, rua ou escola há uma questão que a partir desse olhar para esse território ou problemática é mais prático buscar apoio para uma intervenção ou atividade cotidiana, na coletividade.
A discussão de gênero, água e educação ambiental começou a ganhar corpo a partir da década de 1990, mas ainda é pouco difundida no Brasil. Essa proposta empodera lideranças e mulheres para que sejam protagonistas em seus territórios, considerando diversidade social, cultural, ambiental, econômica e intergeracional.
Assim, jovens e adolescentes também podem se envolver nessas discussões e buscar, com pessoas mais velhas e anciões, a forma de relação de cuidados com a natureza. Os conhecimentos tradicionais são essenciais para o uso e cuidados com o meio ambiente.
Harmonizar o uso e aproveitamento da água administrando-os em benefício do conjunto da sociedade trata-se de um processo de longo prazo, devido à lentidão dos mecanismos que nele intervêm. Esta gestão deve se basear na participação de todos os setores de usuários e dos interessados numa determinada Bacia; somente eles garantirão a sustentabilidade do processo sempre e quando sintam que a sua participação nas decisões determinará o desenvolvimento e a conservação da bacia hidrográfica. Se todos estiverem convencidos disto, a gestão integrada em gênero permitirá que o processo seja estável e duradouro.