Funcionários reclamam de condições trabalhistas em obra da Suzano
Relatos ouvidos pela reportagem são de falta de reajuste na remuneração e até comida estragada
Funcionários contratados pela construtora Tucumann Engenharia e Empreendimentos reclamam das condições de trabalho para construção da fábrica da Suzano Celulose em Ribas do Rio Pardo, município a 98 quilômetros de Campo Grande.
Por meio do canal Direto das Ruas, trabalhadores afirmam que a empresa - maior produtora de celulose do mundo - e a Tucumann, envolvida no projeto, têm dificultado até mesmo a votação para definir a nova direção do sindicato.
Segundo um motorista, de 28 anos, que preferiu não se identificar, eles se encontrariam na entrada do local, mas o ônibus passou direto. “Não estão deixando o trabalhador sair para a portaria para poder votar. O pessoal está indignado. A obra está parada, não deixaram os peões voltar para trocar de sindicato.”
Em novembro do ano passado, o Campo Grande News já havia reportado as dificuldades que os funcionários relataram. Naquele momento, a Suzano informou que a responsabilidade trabalhista era da empreiteira - esta que afirmou que avaliaria as reivindicações.
À reportagem, o funcionário explicou que centenas de funcionários, em meio a mais de 1,2 mil empregados, reclamam das condições.
“A votação era para trocar de sindicato, eles estavam na portaria e era para ter parado. Eles pegaram o ônibus, não pararam lá e passou direto, fechou o portão e deixou o sindicato para o lado de fora. Falaram que não era para ninguém sair e quem saísse iria ter as sanções.”
Segundo ele, o vale-alimentação é de aproximadamente R$ 200, valor inferior ao que é pago em outras filiais da Tucumann, de quase R$ 600.
No Brasil, o preço médio da cesta básica é superior a R$ 507 e chega a ultrapassar a cada dos R$ 700, de acordo com pesquisa realizada pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), em janeiro, em 17 capitais.
Em vídeos encaminhados ao Campo Grande News, responsáveis pela empreiteira e pela fábrica tentam acalmar os ânimos dos trabalhadores. Um encarregado comenta que houve presença da polícia no local, mas que não foram acionados por ele.
“Eu não chamei a polícia, para deixar claro. Eu acho justo que vocês estejam assim, nervosos. Vou pedir para o outro sindicato entrar aqui hoje [...] foi só para evitar transtorno na rodovia. Aquela entrada não comporta, a entrada da obra não comporta parar todo mundo ali. Não é só a Tucumann que trabalha ali.”
De acordo com a Polícia Militar, agentes foram até o local para coibir aglomerações - proibidas por decreto municipal publicado ontem, a fim de evitar infecções por coronavírus. "Foi recebido diversas informações de que havia alguns trabalhadores ligados a obra querendo realizar o ato programado, com ameaças de até fazerem o bloqueio da BR 262 impedindo seu tráfego."
"Diante das suspeitas, a Polícia Militar mobilizou forças, bem como parceria da PRF [Polícia Rodoviária Federal] e houve uma ação preventiva em conjunto das forças de segurança no intuito de impedir qualquer ato ilegal no local [...] foi empregado medidas com intermédio e apoio da Suzano, que possibilitou que até o presente momento não houvesse no local nenhum ato ilegal, violento ou manifestação que trouxesse danos ou fechamento da rodovia."
Outras reclamações vão além da questão salarial e se referem às condições básicas, tais como o alojamento - que por vezes, fica sem água ou energia elétrica, segundo os funcionários -, ou até mesmo a alimentação.
“Melhoria na alimentação, no alojamento. [Está] acabando água, acabando energia direto. A comida da janta é requentada do almoço. Vem daquele jeito a janta, só dá uma 'mudadinha' no almoço, mas janta tá vindo a mesma coisa [...] estão 'zuando', carne vem com gosto estranho, cheiro estranho. Arroz azedo, feijão azedo, comida estragada", diz o funcionário.
Reivindicações - Ao Campo Grande News, a Tucumann Engenharia e Empreendimentos ressalta que, na manhã de hoje (23), cerca de 10% dos seus colaboradores iniciaram um movimento de paralisação e apresentaram uma pauta de reivindicações.
Além disso, a empresa afirma que o movimento é ilegal, “visto que não foram cumpridos nenhum dos requisitos legais necessários”.
“A empresa informa ainda que segue rigorosamente a convenção coletiva da categoria, bem como todas as normas e exigências de saúde e de segurança dentro do canteiro de obras e também em seus alojamentos.”
Um abaixo assinado que a reportagem teve acesso indica que quase 120 funcionários - das mais diversas áreas - assinaram pelas melhorias. O documento também exige intervenção por parte do MPT (Ministério Público do Trabalho).
"Nós trabalhadores na obra da fábrica de celulose da Suzano na cidade de Ribas do Rio Pardo-MS, exigimos a presença do Ministério Público do Trabalho para fazermos uma mediação com a empresa Tucumann e contratadas na busca de ser atendidas as reivindicações."
De acordo com o MPT, pedido de mediação foi protocolado pela Tucumann na noite de ontem (23) e ainda será apreciado. O órgão também informa à reportagem que não legalizou o movimento de paralisação.
No documento, os trabalhadores pedem "correção dos endereços dos trabalhadores que residem fora da cidade e estado e foram registrados com endereço local para burlar o direito de baixada", além de "regularização das horas extras não pagas corretamente" e "melhoria de alojamento e alimentação".
Procurada, a Suzano reitera que empregados da construtora iniciaram movimento de paralisação de atividades, o que está é tratado diretamente pela Tucumann. "As demais empresas e colaboradores que atuam na construção de sua nova fábrica em Ribas do Rio Pardo seguem normalmente com suas atividades."
(*) Matéria editada às 12h45 para acréscimo de informações.