Cliente pode não perceber diferença, mas 3º dígito no preço do combustível pesa
A diferença é maior para os lucros dos proprietários de postos de combustíveis
Em meio a tantos altos e baixos no preço do combustível, o que mais preocupa o consumidor são os três primeiros dígitos no preço – exemplo 2,69. Mas, mesmo muitas vezes escondido e até esquecido, o terceiro digito após a vírgula – 0,999 – faz diferença no bolso do consumidor e, principalmente, para os lucros do dono do posto de combustível.
A terceira casa decimal é prática comum a todos os postos de combustíveis do país. Raro é encontrar algum estabelecimento com o preço redondo ou sem o terceiro dígito, já que o seu uso é regulamentado por portaria da ANP (Agência Nacional do Petróleo).
Mas a normativa também determina que o preço final a ser pago seja arredondado para apenas dois dígitos decimais. Ou seja, o terceiro decimal é conta na soma do preço de cada litro, mas o total tem a terceira casa cortada.
Apesar da prática ter respaldo legal, o coordenador geral do Procon-MS, Alexandre Monteiro, diz que o terceiro decimal acaba pesando, sim, no bolso do consumidor.
“Faz parte da composição do preço, mesmo que no final o decimal seja cortado. Se fosse sem esse decimal com certeza iria mais litros para o tanque do carro do cliente”, frisa.
Para comprovar o valor desse terceiro número, a reportagem do Campo Grande News, pediu ao economista da Universidade Uniderp, Celso Correia de Souza, que fizesse as contas de quanto o terceiro dígito pesa no fim de várias idas ao posto.
Ao preço de R$ 1,69 o litro, o motorista que abastecer 40 litros por semana irá deixar ao fim de um ano o equivalente a R$ 20 para o posto de combustível, só com o pagamento do terceiro digito – R$ 1,699.
Sendo assim, o economista calcula que o empresário deixa de faturar ao fim de um mês o montante de mais de R$ 4,800 mil se vender o combustível sem o terceiro dígito para cerca de 3 mil clientes com o mesmo consumo semanal do exemplo acima.
Pesa para quem? - O cálculo passa desapercebido no dia a dia para a maioria dos consumidores, que acreditam que o dígito a mais é “irrelevante”.
“Acho que é irrelevante esse número, não dá diferença no lucro do posto e nem para o cliente. A quantidade que a gente abastece é pouca e por isso não tem grande diferença”, acredita o servidor público, Eduardo Fernandez, de 30 anos.
O consultor de ambientes Fabrício Araujo, de 21 anos, diz que até já parou para fazer as contas, mas que geralmente não dá muito valor ao terceiro número.
“Geralmente é o 9 mesmo, então não influência na escolha do posto. Acho que o valor acaba sendo irrelevante, só quando enche o tanque que pode ter um pouco de diferença”, afirma.
Ele acredita que a estratégia seja mais um marketing para maquiar o assalto ao bolso do cliente. “É pra não assustar com o número redondo, aí a gente pode até pensar que está pagando menos”, diz.
A gerente do Locatelli na avenida Mato Grosso, Luciana Amado, admite que o terceiro número é uma estratégia a mais para aumentar os lucros dos estabelecimentos, mas garante nunca ter feito o balanço de quanto isso representa no faturamento total.
Ela também explica que o terceiro numeral é comum nos preços de combustíveis porque os postos apenas repassam o valor pago às distribuidoras.
“Nós recebemos das distribuidoras o preço com quatro dígitos depois da vírgulas, mas só repassamos ao consumidor com três numerais para não causar confusão ao cliente”, diz.
Sobre o terceiro numeral ser geralmente o 9, a gerente esclarece que o numeral é determinado de acordo com o preço na distribuidora, mais a margem de lucro do posto.
“Não é uma regra ser o 9, pode ser qualquer número. Isso vai depender da margem de lucro do posto e do preço do combustível na distribuidora”, detalha.
É permitido – Em Mato Grosso do Sul, um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) firmado entre o Sinpetro-MS (Sindicato dos Postos de Combustíveis) e o MPE (Ministério Público Estadual) garante a legalidade do terceiro decimal pelos postos de combustíveis.
O acordo foi feito após o MPE entrar com ação civil pública requerendo que os postos não utilizassem o terceiro decimal nas bombas de combustíveis. No entanto, o Tribunal de Justiça acatou a justificativa do Sinpetro-MS de que o dígito era utilizado para cumprir a norma da ANP e é indiferente para o consumidor.
Em nota, o Sinpetro apenas reafirmou a legalidade do procedimento e que o consumidor não tem prejuízos, alegando que no pagamento final o terceiro dígito é cortado.
Já o Procon-MS informou que nenhum posto da Capital foi multado pela pratica e por ser um procedimento legal, o órgão não pode acionar judicialmente os estabelecimentos. A recomendação é para que os consumidores pesquisem os preços, atentos a qualidade do combustível, e que confiram a cobrança do litro na bomba.