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Economia

Eucalipto reina por 300 km, desbanca pecuária e cria novo eixo econômico

Aline dos Santos. enviada especial a Três Lagoas | 12/10/2013 07:00
Caminhões rumam para Três Lagoas, Capital da Celulose. (Foto: João Garrigó)
Caminhões rumam para Três Lagoas, Capital da Celulose. (Foto: João Garrigó)
Eucalipto reina por 300 km, desbanca pecuária e cria novo eixo econômico

Nos mais de 300 quilômetros entre Campo Grande e Três Lagoas, onde a vista alcança, há eucalipto. A 20 quilômetros do perímetro urbano da Capital, na BR-262, “treminhões” carregados e plantações mostram que mais do que uma Capital da Celulose, nova alcunha para Três Lagoas, toda a região Leste de Mato Grosso do Sul embarcou nesta nova vocação econômica.

As florestas plantadas crescem a passos largos. “O plano florestal, feito em 2008, apontava um milhão de hectares em 2030. Mas esse um milhão deve ser alcançado em 2020”, afirmou o diretor-executivo da Reflore MS (Associação  Sul-mato-grossense dos Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas), Benedito Mário Lázaro.

Atualmente, são 700 mil hectares no novo eixo do eucalipto. Em Três Lagoas, a Eldorado Brasil, líder mundial do setor, já se prepara para uma segunda linha de produção. Os mesmos passos devem ser seguidos pela Fíbria. Nesta semana, o governador André Puccinelli (PMDB) anunciou a instalação de uma indústria de papel e celulose em Ribas do Rio Pardo.

O investimento será de R$ 8 bilhões, com previsão de começar as obras em junho de 2014. O Estado também tem interesse da Arauco, do Chile. Mas a medida depende da mudança na interpretação da Lei para Estrangeiros, que limita a compra de terras.

De acordo com Benedito Mário, a celulose serve para mais de cinco mil itens. No momento, ganha projeção a produção de papéis tissue, como guardanapos, absorventes, papel higiênico. O maior comprador é a Ásia, com destaque para a China.

Madeira vira papel em fábricas. (Foto: João Garrigó)
Madeira vira papel em fábricas. (Foto: João Garrigó)

Por questões climáticas, o cultivo do eucalipto no Brasil é mais rentável do que o da concorrência nos países do Hemisfério Norte. Em Mato Grosso do Sul, as plantações se estendem pela bacia do rio Paraná. “São áreas com solo mais arenoso que têm dificuldade de ter soja, milho, trigo. Pode plantar? Pode. Mas vai gastar um monte de dinheiro”, afirma o diretor.

Em geral, as áreas para plantio são arrendadas e viram mix de eucalipto e pecuária. Segundo Benedito Mário, as florestas plantadas trazem vantagens ambientais, econômicas e sociais. “Traz empregos de qualidade, toda uma cadeia produtiva”, diz.

No entanto, o setor cobra melhoria na infraestrutura, como estradas vicinais, rodovias, ferrovias. O diretor-executivo afirma que também é necessário avançar em biotecnologia. “Hoje, são 3.6 metros cúbicos para uma tonelada de celulose. Tem que diminuir para 3 metros cúbicos. Melhorar a espécie” salienta.

Do ponto de vista ambiental, são levantados dois fatores contra: que a monocultura não pode ser considerada floresta e a pequena biodiversidade.

Segundo Guilherme Araújo, obra de ampliação deve criar 6 mil empregos.(Foto: João Garrigó)
Segundo Guilherme Araújo, obra de ampliação deve criar 6 mil empregos.(Foto: João Garrigó)

Para chinês ver – Inaugurada em dezembro de 2012, a Eldorado Brasil inicia os preparativos para uma segunda linha de produção. Dos atuais 1,5 milhão de tonelada por ano, a empresa pretende chegar a 3,5 milhões anuais em 2017. A maior fatia da produção vai para a China, depois Europa e, por fim, 15% para América Latina, incluindo Estados Unidos e o Brasil.

De acordo com o diretor-geral da Eldorado, Guilherme Araújo, uma audiência pública no dia 13 de novembro, em Três Lagoas, vai discutir os impactos ambientais. Os estudos de EIA/Rima (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental) são volumosos: 2.500 páginas.

Depois, vem o processo de licenciamento ambiental. As obras devem começar entre 2014 e 2015, empregando, desta vez, seis mil pessoas. Na primeira etapa, foram 10 mil trabalhadores no pico da fase de construção. A primeira linha teve investimento de R$ 6,2 bilhões. Para a segunda etapa, os custos ainda são avaliados. A empresa tem 2.500 empregados, sendo 700 na fábrica.

O ciclo do ouro branco – Do pátio, capaz de abrigar 160 mil metros cúbicos de madeira, o eucalipto é picado e peneirado. Agora chamado cavaco, os pedaços são selecionados e seguem por uma esteira até o digestor de 72 metros, uma grande panela de pressão. Em seguida, a massa passa pelo branqueamento e, depois, segue para secagem.

No fim do processo, o papel já sai pronto para exportação. São duas rotas para chegar ao Porto de Santos. Metade vai até Aparecida do Taboado e segue de trem. O restante vai pelo rio Paraná até Pederneiras (São Paulo) e vai pelos trilhos até o porto. O parque industrial ainda conta com chaminé de 142 metros, equivalente a um prédio de 47 andares.

De acordo com Guilherme Araújo, a diversificação dos modais favoreceu a escolha de Três Lagoas para receber o empreendimento. O fator climático também teve seu peso. “O eucalipto precisa de 600 milímetros de água por ano. Aqui, chovem 800, mil milímetros por ano. Não consome mais água do que chove. A terra é o nosso maior bem”, afirma o diretor-geral.

Segundo ele, as licenças também dimensionaram o impacto no rio Paraná. “O rio tem vazão de 6 mil metros cúbico de água por segundo. Usamos 3 metros cúbicos por segundo e devolvemos 2,7 metros cúbicos”, afirma.

Escoamento por rodovia, rio e trens favorecem escolha por Três Lagoas. (Foto: João Garrigó)
Escoamento por rodovia, rio e trens favorecem escolha por Três Lagoas. (Foto: João Garrigó)
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