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Economia

Gasolina, luz e comida: consumidor se desdobra para dar conta de tanto aumento

Pelo menos sete itens básicos do dia a dia influenciaram diretamente na renda do brasileiro este ano

Izabela Cavalcanti | 10/06/2023 09:58
Edileusa olhando preço de frutas em supermercado (Foto: Henrique Kawaminami)
Edileusa olhando preço de frutas em supermercado (Foto: Henrique Kawaminami)

Gasolina, gás de cozinha, luz, remédios e alimentação são alguns dos motivos que têm consumido boa parte da renda dos campo-grandenses. A lista de reajustes em 2023 é extensa e, para dar conta de tudo, é necessário economizar de um lado para pagar de outro.

A aposentada Edileusa Maria de Lima, de 65 anos, vê como um desafio conseguir comprar o que precisa no supermercado. “Eu acho caro. Um absurdo. Não faço compra por mês por causa dessa mudança de preço, compro conforme vou precisando”, disse.

Para economizar ainda mais, em casa, ela cozinha no fogão à lenha. Dessa forma, o gás de cozinha dura mais. Com água, ela gasta R$ 150 por mês; luz R$ 240; e internet R$ 100.

Eu não compro o que eu preciso, compro o que eu posso”, dispara Edileusa.

Em um estabelecimento no Tiradentes, ela faz contas para saber o que dá para levar, mas tirou da lista o alho, banana, batata, repolho, tudo que tinha planejado levar.

Aposentada Edileusa Maria de Lima faz contas no supermercado (Foto: Henrique Kawaminami)
Aposentada Edileusa Maria de Lima faz contas no supermercado (Foto: Henrique Kawaminami)

A aposentada Afonsina Rodrigues, de 86 anos, diz que com o aumento exagerado dos produtos do dia a dia, vive no “aperto”. No mercado, ela comprou um sabonete e uma rosca doce para comer.

“Está difícil, tudo o olho da cara. Comprar um quilo de carne hoje em dia, não dá para se alimentar”, lamentou.

Afonsina com sabonete na mão e comprando rosca, em supermercado (Foto: Henrique Kawaminami)
Afonsina com sabonete na mão e comprando rosca, em supermercado (Foto: Henrique Kawaminami)

Ela mora com outras quatro pessoas. O aluguel custa R$ 1,8 mil; água e luz R$ 300 cada. Fora o gás, remédios e imprevistos do dia a dia.

Em relação ao cartão de crédito, Afonsina diz que está sem limite por precisar usar para fazer compras no supermercado e não conseguir pagar. Ainda de acordo com ela, estava tomando banho com shampoo até conseguir comprar o sabonete.

Com um novo emprego há 4 meses, a auxiliar de limpeza Marilene Ribeiro, de 42 anos, tenta como alternativa pagar as contas mais necessárias para sobreviver. “O que dá para prorrogar eu deixo e assim vou vivendo”, disse.

Com duas filhas, de 14 e 17 anos, para sustentar, ela conta os gastos e diz que compra só o básico no supermercado. “Energia é R$ 95; água R$ 180; comida é só o básico e dá R$ 800 por mês. A gente tenta sobreviver, tem que se desdobrar”, detalhou.

Elieber, na Rua 14 de Julho, com pasta de documentos na mão (Foto: Marcos Maluf)
Elieber, na Rua 14 de Julho, com pasta de documentos na mão (Foto: Marcos Maluf)

Elieber Batista, de 37 anos, está desempregado há 1 mês. Mesmo tendo carro na garagem, a opção que tem para economizar gasolina é andar de ônibus. As compras no mercado saem R$ 1 mil por mês; e a luz custa R$ 250, por exemplo.

“As coisas estão caras, energia, carne. Hoje, com 100 reais, não entro no mercado”, lamentou. Enquanto estiver recebendo o seguro-desemprego pretende procurar trabalhos freelancer para compor a renda.

Reflexo - Na visão do economista Marcio Coutinho, o trabalhador precisa encontrar alternativas para driblar as situações.

O trabalhador é um herói, é um combatente, buscando alternativas para driblar situações que fogem do controle dele. Ou seja, o trabalhador precisa encontrar alternativas de como ele vai driblar isso”, disparou Marcio.

O profissional ainda ressalta a dificuldade de substituir os gastos básicos do dia a dia. “É claro que aumentando gasolina, aumentando energia, gás, remédio, isso vai pesar no bolso do brasileiro. Quanto menor for a renda, mais pesado fica, porque os gastos básicos, as pessoas não conseguem fazer uma substituição. Então, fica refém desses aumentos”, completou.

Já na visão do economista Eugênio Pavão, o cenário atual é de “tira e põe” por parte do governo estadual e municipal. “Observamos uma fase de tira de um lado e põe do outro. Governo estadual e municipal dando benesses e por outro ajustando as receitas. A política macroeconômica está voltada para o controle da inflação baseada na política monetária (taxa de juros)”, ressaltou.

Além disso, Eugênio também diz que a transição econômica, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia e a recomposição tributária resultaram em maior custo para a população.

“Para o curto prazo, essa situação vai arrefecer, pois alguns reajustes são sazonais, como os remédios, reajustados a cada final do mês de março”, disse.

Reajustes – Em janeiro, portaria da Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos) aprovou o reajuste de 6,83% na tarifa de água e esgoto em Campo Grande. Deste percentual, 6,46% referem-se ao reajuste tarifário previsto em contrato anual.

Em março, o preço dos medicamentos tiveram alta de 5,6%. O reajuste deve refletir em, aproximadamente, 10 mil medicamentos.

Em abril, a energia teve aumento médio de 9,28% em Mato Grosso do Sul. Conforme a RTP (Revisão Tarifária Periódica) aprovada, os consumidores de alta tensão tiveram 6,28% de reajuste; os de baixa tensão, 10,48% e os residenciais, 9,58%.

Com isso, conforme o Concen/MS (Conselho de Consumidores da Área de Concessão da Energisa Mato Grosso do Sul), o kw/h (Quilowatt-hora) saiu de R$ 0,09 para R$ 0,12 aos consumidores de baixa tensão, por exemplo.

Para os que estão na faixa de 200 kw/h mensais, o valor saiu de R$ 1,15 para R$ 1,26. Já em uma conta de consumo de 250 kw/h, a diferença será de aproximadamente R$ 27,50.

O último aumento da gasolina ocorreu no dia 1° de junho, quando começou a vigorar o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) fixo em todos os estados brasileiros.

Em Mato Grosso do Sul, o imposto que era R$ 0,92 subiu para R$ 1,22, diferença de R$ 0,30, segundo o Sinpetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo e Lubrificantes). A mudança refletiu diretamente no preço do combustível.

Em relação ao gás de cozinha, no dia 1° de maio, aumentou o ICMS sobre o produto para R$ 7,49, conforme a Sinergás (Sindicato das Empresas e Revendedoras de Gás do Centro-Oeste).

Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), do dia 30 de abril a 5 de maio, a média do gás estava em R$ 105,34. Já na última pesquisa, do dia 28 de maio a 3 de junho, passou para R$ 107,97.

Os alimentos, parte essencial da sobrevivência de qualquer pessoa, também teve alta. Segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), a cesta básica de Campo Grande, em abril, ficou 2,58% mais cara, passando a custar R$ 734,74. Em maio, teve queda de 1,85%, passando a custar R$ 724,09.

Apesar da leve redução, a cesta básica continua sendo a quinta mais cara entre as capitais brasileiras.

Para estudar também ficou mais caro. Geralmente, sempre em um novo ano, as escolas reajustam o preço da mensalidade. Conforme apurado pela equipe de reportagem do Campo Grande News, em janeiro, as escolas aumentaram a mensalidade entre 2,63% e 25%.

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia), em Campo Grande, no mês de abril, o Ensino Fundamental teve aumento de 11,47%; Ensino Médio, 10,15%; e pré-escola, 9,28%.

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