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Economia

Preço cai, mas nem picanha barata faz aumentar consumo

Alguns açougues montam kits na tentativa de estimular o cliente a gastar com churrasco

Por Kamila Alcântara | 23/02/2024 08:39
Açougueiro Deivy Farrera exige um pedaço de picanha, vendida no estabelecimento que ele trabalha por R$74. (Foto: Paulo Francis)
Açougueiro Deivy Farrera exige um pedaço de picanha, vendida no estabelecimento que ele trabalha por R$74. (Foto: Paulo Francis)

Os açougues andam ajudando os churrasqueiros, com queda de preços até no quilo da picanha, mas mesmo assim o consumo não reage, reclamam os empresários do setor. O problema para quem vende é a equação que começa antes da porteira abrir. O valor da arroba do boi "anda de lado", com preço baixo desde 2023. A partir daí é efeito cascata: a indústria precisa baixar o preço ao repassar para o atacado e varejo. Lá na ponta, tem a "pressão" da queda do consumo. É a lei de oferta e procura.

Especialistas destacam que o setor ainda enfrenta os reflexos da pandemia de covid-19, que influencia no comportamento dos consumidores, como explica a médica veterinária e consultora da Agrifatto*, Laura Rezende. "O contexto ainda é desafiador, com altos índices de desemprego e baixo poder de compra da população. Isso faz com que o brasileiro migre seu consumo para produtos menos onerosos, que é o caso dos cortes de dianteiro, também conhecidos como cortes de segunda", explica.

Porções de coxinha da asa, espetinhos de frango e cuprim temperados e fracionados pelo açougue para tornar a preparação do alimento mais fácil. (Foto: Paulo Francis)
Porções de coxinha da asa, espetinhos de frango e cuprim temperados e fracionados pelo açougue para tornar a preparação do alimento mais fácil. (Foto: Paulo Francis)

O Campo Grande News visitou açougues de regiões diferentes da Capital e constatou variação de até 51% nos preços dos cortes nobres, como a famosa picanha. O local com o valor mais expressivo fica na região do bairro Coronel Antonino, onde o quilo é encontrado a R$ 74. Para que os clientes não deixem de aproveitar o churrasco, esse mesmo estabelecimento disponibiliza porções cortadas e temperadas para facilitar o preparo.

“Nós somos uma casa de carnes, então priorizamos pelo produto de melhor procedência e qualidade. Do começo do ano para cá, notamos queda das carnes de segunda, como a ponta de costela, que custava R$ 42 e agora está R$ 37.  O que também tem boa saída são os nossos kits práticos, com frangos temperados, espetinhos, hambúrgueres e almôndegas, para a pessoa que está apressada e precisa agilizar a refeição”, explica a subgerente Letícia Padilha, de 27 anos.

Expositor de carnes em açougue na avenida Júlio de Castilho, onde a maioria dos cortes está em oferta. (Foto: Paulo Francis)
Expositor de carnes em açougue na avenida Júlio de Castilho, onde a maioria dos cortes está em oferta. (Foto: Paulo Francis)

Já na avenida Júlio de Castilho, na casa de carnes de frios onde Edmar Lima é gerente, os preços seguem em queda. Apesar das propagandas com carros de som nas ruas, a compra acompanha o comportamento de baixa. Por lá, a picanha pode ser comprada por R$ 58,99, mas em dias especiais chega a R$ 49.

“Caiu bastante o preço, mas o consumo também acompanhou a queda. Abaixamos o preço final, mas não vende o esperado. Sempre que abaixa a carne, a expectativa é subir a venda, mas não está sendo assim. Com isso, trabalhamos com divulgação ativa, com carro de som e o que for preciso para chamar atenção da vizinhança”, compartilha o gerente.

Evanir Martins, 46 anos, mora no bairro Tijuca e aproveita o caminho do trabalho para comprar carnes. Ela está satisfeita com os preços baixos, que possibilitam a mudança no cardápio doméstico. “Eu costumo comprar coxão duro ou patinho e a diferença está sendo pouco de um lugar para outro. Agora estamos consumindo mais carne vermelha, porque deu uma baixada boa, antes estávamos só no frango”, diz com sorriso no rosto.

Evanir Martins, 46 anos, foi até o açougue comprar bifes de coxão duro. (Foto: Paulo Francis)
Evanir Martins, 46 anos, foi até o açougue comprar bifes de coxão duro. (Foto: Paulo Francis)

Responsável pelas compras de bois inteiros em um supermercado na avenida Manoel da Costa Lima, Nathália Duarte, 27 anos, diz que a saída dos cortes populares é constante, mas os de primeira acabam sendo comercializados para restaurantes. Lá, os consumidores encontram picanha por R$ 49 e filé-mignon a R$ 52.

“Os cortes de carne saem bem, só o filé e a picanha que empacam aí a gente abaixa mais o preço e mandamos para venda nos restaurantes. É uma alternativa de não perder o produto”, destaca.

Valores atualizados -  A consultora Laura Rezende confirma que o preço da arroba do boi abaixou e, com ele, também a carne para o consumidor final. Não na mesma proporção. Enquanto a arroba reduziu 12,5%, no comparativo janeiro de 2023 e 2024, a carne no varejo caiu 7,4%, com um preço médio no último mês de R$ 41/kg.

"Apesar dessa queda, dado a conjuntura econômica brasileira, esse valor ainda é inacessível ou pouco acessível para grande parte da população brasileira. Além disso, as segundas quinzenas do mês, historicamente, já apresentam queda na procura pelas carnes de maior valor agregado, devido a perda do poder de compra da população pela aproximação do fim do mês", concluiu.

 

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